Por Betho Wilson
Mais uma semana, um sábado a mais na contagem da vida, ou a menos, dependendo do prisma que se olha a existência. O importante é aproveitar com quem amamos cada segundo que temos para respirar.
Eu, quando criança tive a oportunidade de viver uma época bastante favorável às brincadeiras de rua. A década de 90, toda ela, foi a melhor fase para mim no tocante a liberdade e experiências no âmbito da amizade. Toda a vivência que se deu nos 10 anos corridos de 1990 a 2000 formou meu caráter e senso crítico que carrego.
Ser criança naquela época era estar na rua como o vento, correndo solto. Quem pode com o vento? Desbravar o bairro, se aventurar na mata do Parque da Cidade colhendo frutas, dropar as ondas de Amaralina tendo o corpo como prancha de “surf” num jacaré frenético em plena maré de março, bater lata, salada mista, garrafão, são alguns dos muitos exemplos que eu posso citar aqui.
A criança que eu fui ao período que vivi a infância também tinha responsabilidades.
Além de pequenos afazeres domésticos que eram regra: por o lixo para fora, lavar banheiro, limpar quintal, ir à padaria, etc., tínhamos o dever de silenciar ante um mais velho, em alguns casos, dependendo de quem fosse o ancião ou a senhora tomávamos a benção como que a um parente.
Ser criança em qualquer parte do mundo não é ou não deveria ser sinônimo de medo. Ser criança é carregar a alegria de um espírito alegre e travesso que faz sorrir o mais sisudo coração. Mas não tem sido assim mundo a fora e muito menos aqui no Nordeste de Amaralina.
Noticiários de diversos lugares nos apresentam números alarmantes de mortes de crianças por todo o globo. Assassinatos que acontecem numa diversidade de causas que repugnam e me fazem lastimar profundamente a categoria de adultos que nos tornamos.
O descaso que nós dispensamos a elas é uma vergonha!
Aqui na nossa comunidade, já choramos o suficiente por perdas irreparáveis que para o sistema doentio que construímos são acidentes de um percurso aterrorizante.
O luto dura um curto espaço de tempo, exceto para os familiares, esses carregam o insuportável peso da ausência por toda a vida.
Se tivéssemos um amor responsável por nossos mais novos não descansaríamos até ver cessar o sofrimento deles erradicando por completo suas mortes que hoje estão normalizadas pela banalização da violência.
Como artista, vivente e Pai, deixo aqui minha homenagem à memória desses pequeninos que muitas vezes são objeto direto de nosso despreparo como péssimos adultos e me solidarizo com suas famílias.
Todas as religiões de que sem tem conhecimento louvam a força jovial e a alegria pueril presente nelas, e nos convidam a ser como elas o que lamentavelmente não acontece.
Nossa sociedade tem muito o que evoluir. Somos uma raça que extermina a sua própria continuidade numa mal fadada Cultura de morte, isso beira a burrice.