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[Coluna NES] Olha pro céu meu amor

Published:

por Betho Wilson

Ah! Brasil… lar dos nativos moradores que o batizaram de Pindorama e terra de Santa Cruz para os à (época) recém-chegados colonizadores brancos europeus. Aqui uma mistura inimaginável se deu através da imposição pela ferramenta desumana da escravidão gerando muitas demandas sociais vivenciadas na pele sobretudo da parcela descendente dos povos africanos e também na pele dos povos originários desse lugar que permanece lindo no ponto de vista da natureza.

Essa miscelânea genética e cultural tratou logo de dar uma cara diferente a muitos hábitos vindos de lugares distintos e reunidos aqui, que, ao se misturarem entregando-se um ao outro, geraram uma nova forma de comportamento parindo um povo novo que ainda sofre o latente preconceito e o cerceamento de direitos básicos das camadas mais pobres da sua população.

Por todo o ano acontecem celebrações e solenidades festejadas em nosso território de origem ora nativa, ora africana, ora europeia e em alguns casos com origem em pequenas colônias de outros povos que se estabeleceram por aqui como os japoneses e ainda muitos árabes e cristãos ortodoxos da região do oriente médio também. Um exemplo de uma dessas manifestações que se enraizou aqui sofrendo uma espécie de mutação a partir da soma cultural e que parece ser unanimidade no gosto popular são as festas juninas.

O mês de junho, sexto no calendário utilizado por nós, o Gregoriano, traz um conjunto de cerimônias religiosas em louvor a santos católicos que ao serem celebrados em ritos canônicos com muita louvação em novenas e procissões deu margem e origem a um lado profano onde cozinhar produtos da época à base de milho amendoim e tapioca, se inebriar com licor e quentão, soltar fogos e rojões, sentar em volta da fogueira, dançar a quadrilha ao som do xote, forro, e baião, reunir a criançada no quebra pote e a família toda junta no caramanchão para alguns, onde também me incluo, se tornou o ápice, o momento mais efusivo da festa superando até a parte sacrossanta do todo.

A importância dada a esse momento é justa, afinal de contas o mês apresenta mudanças sentidas em vários âmbitos da vida, ao entrar nele alcançamos a metade do ano, meio caminho percorrido trazendo a certeza de que estamos nos movimentando enquanto organismos vivos em direção ao final de um ciclo e início de outro, junho também traz o inverno ao hemisfério sul e toda a mudança no vestuário e de comportamento ante a queda das temperaturas, junho, que é sempre  bem-vindo, traz poesia através das canções e cordéis criados com maestria por detentores do dom divino de amar e salvar com palavras, os poetas cordelistas e os compositores.

Dentro desse grande caldeirão cultural de ingredientes e misturas aromáticas e sabor afetivo tem um acontecimento que particularmente me deixa em estado de total euforia, o Samba Junino. Que delícia escutar aquela música alegre e intensa com percussão pujante e cantos entoados alto, a batida africana dos arrastões que a cada rua reunia uma multidão levando consigo muita gente do nosso bairro era o ápice para mim. O Samba Boqueirão do grande Beto Boqueirão que desde lá atrás nas décadas de 70, 80 e até hoje vem fazendo esse círio por todo o Areal e adjacências trazia identificação para mim, uma criança preta que via na musicalidade daqueles homens afrodescendentes como eu a potência em assumir ser quem nasceu para ser.

Nosso lugar, nosso lar, esse bairro que acolhe a todos e que deve ser por todos cuidado com zelo é uma grande escola da vida onde ora somos alunos e ora professores numa troca constante e vivência intensa nas lutas e nas celebrações.

Em mais um ano da pandemia causada pelo SARS-COV-2, vírus transmissor do coronavírus, teremos um São João igual ao do ano passado, evitando aglomerações, restringindo visitas e idas à lugares sem ventilação e a pior de todas as demandas, deixar os abraços calorosos e manifestações de carinho físico de lado pelo menos por agora, nada absolutamente supera a vida e poder gozar dela com saúde é o bem mais precioso que temos.

Anarriê!

Redação NES
Redação NES
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