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[Coluna NES] Baila, Nagô!

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É com muito orgulho que hoje escrevo sobre esse cara que admiro e respeito tanto. Nagô (Nagozinhooooooo, no “Fayganês”) é na dele, fala pouco, mas é de uma sabedoria absurda. Foi uma das pessoas que mais me fez enxergar algumas coisas na vida. Com sua licença, peço sua benção para a coluna de hoje.

            Wellington Nagô nasceu numa 5ª feira, enquanto toda a cidade de Salvador comemorava o dia do Senhor do Bonfim. O Nordeste de Amaralina e o Candomblé foram seus berços. Morou na Rua do Gás e, apesar de hoje morar na Vila Mattos, ainda frequenta muito a comunidade por causa da sua família paterna. Sua avó foi uma das mais conhecidas Iyalorixás da região, Silvinha de Obaluaê: “Minha avó fazia uma mesa de caboclo todas as 4as feiras. O Candomblé dela era de caridade. Ela nunca aceitou dinheiro de ninguém. O tombamento é bom porque tem ajuda, mas ela nem entendia sobre isso, nunca quis. Na época, tinha muita guerra de tráfico. Ela só queria mesmo ajudar a comunidade, era uma mãe pra todo mundo, criou muitos filhos, deixava as pessoas morarem no terreiro”.  Foi batizado na Igreja da Conceição da Praia, o que me faz insistir que a convivência entre as religiões pode e deve ser pacífica.

Iyalorixá Silvinha de Obaluaê (no centro)

            Foi justamente no terreiro da avó que começou a ter contato com os atabaques, aos 6 anos de idade. Aos 12, começou a tocar profissionalmente com o Mestre Cacau do Pandeiro. Fez parte da Timbalada de 2011 a 2014: “Até hoje tenho uma relação maravilhosa com Brown e com Gilson”.

            Sobre fazer parte da banda de Denny, ele diz: “Quando eu quis sair da Timbalada, Denny não aceitou. Ele é um irmão pra mim, independente de hoje ser meu patrão. Assim que ele saiu também, me ligou, me convidou e eu fui. Graças a Deus, está dando tudo certo. Quando tem amizade no trabalho, tudo fica mais fácil”.

            Com tanta ancestralidade e talento, Nagô sentiu que poderia também fazer carreira solo. Prima pela qualidade das letras e dos arranjos: “Não tenho ganância pelo sucesso, pelos holofotes. Se rolar, vai ser bacana. Mas eu faço o som mesmo para as pessoas  que gostam de música afro, ancestral. Eu falo sobre a história do povo negro, sobre o Candomblé . Eu não sou um “cantor”, minha carreira é tranquila…E eu vou continuar tocando percussão. Tudo depende da vontade de Deus!”.

            Nagô tem paixão pela música  Afro Ancestral, Santeria, Afro-Cubana.   “Por ser percussionista, estou sempre estudando (…) Carlinhos Brown e Mano Brown são dois artistas que fizeram uma revolução nas músicas brasileira e mundial. Admiro também Mv Bill, sou muito fã dos três. São caras que têm conteúdo, têm assunto. A música socializa. As pessoas só veem a negritude como “marginal”, “às margens”, como dizem… Mas a arte salva e leva a negrada a lugares incríveis”.

            Há algumas semanas, Nagô lançou “Baila Negro”, com participação de Oz (Attooxxaa) e de Iracema Killiane (Ilê Aiyê) : “Tudo é grana e a gente que tem som alternativo, não tem ninguém por trás. Eu gosto de fazer as coisas com qualidade, então preciso fazer aos poucos, canção por canção”.

            Qualidade e beleza não faltaram no “clip”: https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=uoTt–7jCHI&feature=youtu.be

            Acompanhe @wellington.nago nas redes sociais.

            É cria do Nordeste de Amaralina, minha gente!

            Eu tentei escolher UM  trecho da música para colocar aqui. Mas não fui capaz. Que me perdoe o editor se eu ultrapassei minha quantidade de linhas (rs), mas numa época em que a gente precisa falar, aprender, ver e rever conceitos, “Baila Negro” vem como um VRÁ daqueles brabos!  Que possamos aprender a ser tolerantes e respeitosos com o que não for da nossa rotina e do nosso convívio.

BAILA NEGRO (Composição: Nagô Beets / OZ)

ISRC: BCWN92000001

“Baila negro, baila negra

 Eu vou cantar pra você a Bahia de Caymmi, Jorge Amado e Badauê

 E você vai se envolver no ensaio do Olodum, do Muzenza, do Malê

E a negona mais linda sonha um dia com reinado de Rainha do Ilê

 Baila o corpo preto, baila o corpo preta

Para o mundo ver que a Bahia é tão linda de se ver

 Baila negro, baila negra Baila negro, baila negra

 E você não vai entender carnaval, festa de largo

O sagrado e o profano vira festa todo ano

Lavagem, procissão, dezembro de Oyá 2 de fevereiro tem lavagem de Yemanjá

 Bonfim pago promessa pra Oxalá me abençoar

 Ilê Aiyê, Curuzu, Candeal Pracatum, Pelourinho, Olodum

 Baila o corpo preto, baila o corpo preta

Para o mundo ver que a Bahia é tão linda de se ver

 Baila, baila como 7 saia, na roda gira, cigana rara

Minha estrada já tá despachada, por onde passo Exu de quebrada

Tomando cachaça, comendo farinha, azeite e galinha

Nos livra da magia

 Baila o corpo preto, baila o corpo preta Para o mundo ver que a Bahia é tão linda de se ver “

Fayga Cabral
Fayga Cabral
Carioca, torcedora do Flamengo e do Bahia, vivendo em Salvador desde 2013. Analista de Redes em Mídias Sociais, Bacharela em Relações Internacionais. Depois que quarentou, resolveu ser estudante de História e de Letras. Ninguém é obrigado a ter um só caminho, uma só direção, uma só opinião.

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