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Músico do Nordeste de Amaralina brilha nos palcos do mundo.

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Beto é filho da Tia Benedita, da antiga creche Coração da Mamãe, famosa por ter ensinado e cuidado de um grande número de pessoas da região. ?Sou daqui do bairro do Nordeste de Amaralina. Dessa região aqui, próximo ao Beco da Cultura, próximo ao Coqueiral?, costuma dizer aos quatro cantos. Seu primeiro disco alcançou a expressiva marca de 80 mil downloads em Nova Iorque. ?Os gringos baixaram o disco. Por conta disso recebei convite para trabalhar em outros países. Lancei um segundo disco dois anos depois e teve até matéria na Rolliig Stones?, vibra.

A infância não foi diferente da de qualquer garoto morador de bairro periférico de Salvador no final dos anos 80, 90. Idas ao parque da cidade para pegar jaca e manga e brincadeira simples como ciranda, gude, bola e garrafão permearam de alegria a infância do garoto Wilson Roberto. Entretanto, uma simples brincadeira, em especial, não sai da memória do músico: catar vagalumes. ?Isso era muito forte aqui no bairro. O Nordeste ainda parecia uma grande fazenda com muitas casas. O ceú do Nordeste, sobretudo do Areal se enchia de vagalumes?, recorda.

Foi durante a adolescência que a música surgiu com a força na vida de Beto. ?Era o auge do samba reggae. Todo bairro tinha banda de samba reggae e aqui não era diferente. O Impacto Sonoro, o Swing Magia… Brincávamos de tocar com latas… Os mais velhos batucavam e ficava de olho. Lembro da Lavagem da Ubaranas, Lavagem do Capim, Lavagem do Coqueiral, Lavagem do Samba Vila…Não podemos esquecer do Unidos do Campim, Samba Flash, Samba Vila… Um dos maiores entretenimentos da minha geração era justamente brincar de ser músico. Tocar em lata, batucar em carro…Por isso se produziu tantos músicos. Metade da Timbalada era daqui?, recorda.

Foto Reprodução

Apesar de toda a efervescência do samba reggae que tomava conta das ruas do bairro, foi na igreja católica que Wilson Roberto aprendeu a tocar violão e deu os seus primeiros acordes. Não demorou muito. Logo surgiu o convite para integrar à banda Samba Black. ?Me tornei profissional e comecei a ganhar dinheiro com a música após a montagem da banda Samba Black. Começamos a ganhar um cachê, mesmo irrisório. Todos da banda procuravam crescer como musico e eu comecei a me inteirar mais sobre o instrumento violão. Passei então e romper fronteiras e tocar com outros artistas como Jauperi, Afrodisiaco, Claudia Leitte…?. Foi então que surgiu em sua vida a banda Araketu. Lá Wilson permaneceu por cinco anos, gravou o DVD da banda e participou de programas como Altas Horas, Gugu, Xuxa e etc. Mas o Nordeste não saia da sua cabeça, e tampouco do coração. ?Eu ia para os programas de tv com a camisa escrito Nordeste de Amaralina?, lembra.

RAÍZES ? ?O Nordeste é minha vida. Dos 37 anos que tenho, passei um tempo fora a trabalho, e foi o único momento em que me afastei do bairro. Tenho uma identificação muito forte com o Nordeste. Lembro de um Nordeste onde no inverno precisávamos usar roupas pesadas de frio…De arrancar coco, de ajudar os pescadores no xaréu… Não consigo me ver em outro lugar, embora eu tenha frequentado outros bairros. Aqui é uma relação filial. Me sinto filho do bairro. Metaforicamente falando?. Essas palavras ilustram a relação de extremo afeto que Beto Wilson tem com o seu local de origem. O músico relembra de uma situação onde chegou a ser orientado por um empresário a dizer que era de Amaralina, ao invés do Nordeste. ?Nossa relação de sociedade terminou justamente por isso?, conta. Após dez anos de carreira, Beto parte para a gravação do seu primeiro clip com participação de ex-alunos dos colégios Polivalente e Sátiro Dias e tem composições suas no novo disco de Larissa Luz. ?É dessa forma que eu lido com a minha música. Como terceiro setor. Eu vivo dela. Faço desta musica uma bandeira?, reitera.

RECONHECIMENTO ? Mas nem tudo são flores. O cantor e compositor afirma com convicção que o Nordeste é um dos berços do samba reggae. Cita artistas como Juca Manero, Silvio Almeida, Sandoval dentre outros compositores da região com obras de grande sucesso na música popular brasileira. Entretanto, Beto lamenta a falta de reconhecimento e reverência, por parte da comunidade, à esses artistas. ?Ninguém fala disso. O mundo canta o som desses caras. Ivete Sangalo canta músicas desses caras… Não existe valorização dos artistas do bairro?, lamenta. Para ele, o exemplo mais emblemático é a figura de Agnaldo Pereira da Silva ou Guiguio do Ilê: ?Guiguio teria que ter uma estátua aqui no bairro. Ele é o início, o princípio. Ele é o alfa. Xexéu é uma continuidade disso. Beto Wilson também. Guiguio foi quem começou a dar orgulho de você dizer eu sou do nordeste. Sabe aquela voz divina do Ilê? É do Nordeste?. Para ilustrar a importância de Guiguio, Beto lembra de um outro mestre da MPB, que apesar de ser carioca, morou durante um tempo aqui na região de Amaralina: ?Tive uma relação de amizade com Luiz Melodia. Ele morou aqui na rua da Brisa. Tomamos muita cerveja e batemos muito papo. Tive parte da minha personalidade formada pela sua opinião política e sócio-cultural. Ele se referia a Guiguio como um Deus?.

Para a juventude do bairro, Beto Wilson deixa a seguinte mensagem: ?Desejo a eles coragem, para ser maior do que eu. Eles podem e possivelmente serão. Que foquem esse energia latente que eles têm em coisas boas?. A benção, Mestre Wilson!

Tiago Queiroz
Tiago Queiroz
Graduado em Comunicação/Jornalismo, e exerce as funções de Editor e Coordenador de Jornalismo do Portal NORDESTeuSOU

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