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Com 14 mil casos suspeitos de dengue, Bahia vive risco de epidemia do Aedes aegypti

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Reportagem publicada originalmente no Jornal da Metropole em 5 de maio de 2022

Diferente das palavras coronavírus ou Covid-19 que precisaram ser aprendidas nos últimos dois anos, a imagem do mosquito preto com listras brancas já é uma antiga conhecida dos brasileiros. O Aedes aegypti, mesmo com nomenclatura difícil, é comum no imaginário popular, assim como as formas de prevenir sua proliferação. Mas, ano após ano vem a notícia: surto de dengue na Bahia.

“Quando passa a epidemia, as pessoas esquecem facilmente. Aqui em Urandi isso não deveria acontecer agora, já que tivemos salto de dengue na gestão anterior, em 2019”, diz Rodrigo Carvalho, secretário de Saúde do município no sudoeste da Bahia. Lá, se concentra a maior incidência de dengue no estado, entre janeiro e abril de 2022.

Os primeiros casos da doença foram registrados nas zonas rurais, onde há esquema de irrigação para favorecer a agricultura, principal atividade econômica da cidade. Depois o problema passou a ser os lotes de terra mal cuidados e até quintais sem capinar. De acordo com a coordenadora de epidemiologia do município de Urandi, Erivânia Santos, o Ministério da Saúde também foi omisso durante o último ano em relação ao tratamento das arboviroses — dengue, zika e chikungunya.

“Nós tínhamos uma quantidade de larvicida insuficiente para tratar todos os reservatórios (de água), só tratamos alguns. Houve falta do próprio inseticida. A gente teve que usá-lo de forma mais regrada”, conta Erivânia.

No final de abril, a Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab) divulgou um boletim epidemiológico que aponta o aumento de incidência das arboviroses no estado. Entre janeiro e abril, foram notificados mais de 14 mil casos suspeitos de dengue, 9,2 mil de chikungunya e 557 de zika. Houve aumento de 8,3% em relação ao mesmo período de 2021.

Segundo consta no boletim, a partir da série histórica da incidência da dengue (2018 a 2022), existe certa sazonalidade neste agravo. O ano de 2018 teve um cenário endêmico, sem aumentos significativos de casos, já entre 2019 e 2020 houve uma ascensão do número de casos com comportamento epidêmico da doença. Agora, em 2022, tudo caminha para uma nova epidemia.

AÇÕES DE COMBATE

Nos 10 municípios com maior incidência das três arboviroses, classificados em estado epidêmico, a Sesab diz que já autorizou a liberação do inseticida e do fumacê (UBV), e tem providenciado manter o abastecimento de inseticidas nos núcleos regionais. 

Em relação à dengue, as regiões de saúde que apresentaram maiores incidências da doença foram: Guanambi, Itapetinga, Jacobina, Itabuna e Juazeiro.

No dia 6 de abril, o adolescente João Gabriel Borges, de 15 anos, começou a sentir dor de cabeça. Logo depois, a febre e as dores no corpo se juntaram ao primeiro sintoma. Por um breve momento, por causa da febre, ele chegou suspeitar de Covid-19. Mas, por volta do terceiro dia dos sintomas, sua avó, enfermeira, já sabia que seria dengue. De fato, o diagnóstico foi confirmado na unidade de saúde.

João Gabriel mora em Itabuna, no sul da Bahia. Na rua da sua casa, no bairro da Conceição, tem uma habitação abandonada há mais de dez anos. Poucos anos atrás, antes da pandemia, o pai também foi infectado pelo mosquito Aedes aegypti.

A Secretaria de Saúde de Itabuna divulgou ainda no início de abril um alerta para a população sobre o aumento nas notificações de casos de dengue. De 2021 para 2022, dobrou a quantidade de registros da doença. A cidade está em alerta vermelho.

Segundo a Sesab, 50 municípios representam alto e altíssimo risco para o agravo da dengue. Em Salvador, entretanto, há redução no número de casos. Na capital, foi registrado uma quantidade 54% menor de infecções por dengue, zika e chikungunya.

De acordo com Sandra Oliveira, coordenadora de Doenças de Transmissão Vetorial da Bahia, o motivo para essa disparidade pode ser diverso: subnotificação, o tamanho da população ou mesmo uma melhor prevenção de rotina da cidade.

“A gente sempre solicita aos municípios que intensifiquem as medidas de controle. Principalmente com agentes de endemia, e também apoio da população. Os fatores que determinam a exclusão do vetor no território vem da sensibilização da população”, diz Sandra.

De acordo com o infectologista Claudilson Bastos, o aumento no número das doenças tem a ver com chuvas, clima e umidade, além dos cuidados. A pandemia e o desmatamento também contribuem para o agravamento.

“Nessas épocas, as pessoas talvez não estejam tão atentas com relação às águas que caem nos pneus, nos carros, nos vasos de plantas. A questão da pandemia veio apenas tirar um pouco o foco da população dessa situação. O desmatamento também tem influência, muitas regiões estão sendo desmatadas para construção civil, inclusive Salvador. Com isso, acontece um desequilíbrio ecológico”, afirma.

Redação NES
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