O short jeans desfiado vestia o rapaz franzino de 18 anos. Com o corpo pintado, fazia movimentos sensuais ao mesmo tempo em que puxava nos trios e nos shows pelo Brasil e mundo afora a Timbalada, uma das maiores bandas da axé music.
Sucesso nos anos 90, o ex-timbaleiro Xexéu, hoje com 45 anos, foi filmado recentemente de uma forma bem diferente da imagem que o público guardava dele. Pedindo dinheiro, ele aparece numa localidade do Complexo do Nordeste de Amaralina, em Salvador, sem os dentes, machucado e, aparentemente, sob efeito de drogas.
A repercussão do vídeo fez Xexéu enxergar que sozinho não dava para lutar contra a dependência química. Na manhã desta quarta-feira (2), o cantor assinou um contrato pela vida, aceitando a internação numa clínica de reabilitação na Praia de Ipitanga, em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador (RMS).
“Não está em jogo o meu sucesso, a minha carreira, e sim a minha vida, minha saúde mental. Eu devo isso a minha família, aos meus fãs e a mim, principalmente. Preciso me tratar para poder voltar a cantar”, disse Xexéu ao CORREIO, antes de ser internado.
Acompanhamento
Antes de ser internado, acompanhamos um pouco da rotina de Alfredo Santos Cerqueira Filho, o Xéxeu, em sua casa no Nordeste de Amaralina, periferia de Salvador. Lá, ele falou sobre o problema com drogas e a decisão de retomar a carreira de cantor.
Ele e sua mãe, Onorina Oliveira Sales, 66, receberam nossa equipe na modesta residência que fica na Rua do Leste, por vota das 10h. Prepostos do Instituição Manassés, centro de tratamento para dependentes químicos, também chegaram no mesmo momento.
Visivelmente abatido por conta das medicações que toma para controlar a ansiedade, Xexéu falou sobre a repercussão do vídeo, que o CORREIO optou por não publicar.
“Por um lado foi bom porque trouxe ajuda, mas por outro foi uma falta de respeito ao ser humano, deixando a imagem do artista exposta, mexendo também com toda a família”, afirmou o cantor, que tem dois filhos, um de 26 e outro 24 anos de idade.
Xéxeu disse que o sucesso e a ausência do pai, que morreu quando ele tinha 8 anos, foram algumas das circunstâncias que o levaram a usar drogas.
“Não foi só a fama. Perdi meu pai muito novo. Isso mexeu muito comigo. Não tive quem pudesse cuidar da minha carreira, para poder me dar um direcionamento, e a gente termina experimentando”, declarou, mas sem tirar a própria responsabilidade.
“Não posso culpar ninguém, foi uma vontade própria. Ninguém lhe obriga a usar droga e experimentei. Mas não sabia que o meu organismo era predisposto e, quando fui ver, já tinha virando um indigente. Daí foi a minha primeira internação”, relatou o artista, que já se internou três vezes – a última há quase um ano.