Um dos principais redutos da cultura negra de Salvador, o Nordeste de Amaralina terá uma representante no tradicional concurso Deusa do Ébano, promovido pelo bloco Afro Ilê Aiyê. A jovem Stephanie Ingrid, de 22 anos, vai representar o bairro, onde nasceu e cresceu, na disputa pelo título de Rainha do Ilê. A Noite da Beleza Negra, evento onde a Deusa do Ébano 2024 será escolhida, está prevista para 13 de janeiro, na Senzala do Barro Preto.
Residindo há três meses em Itapuã, Stephanie passou sua infância, adolescência e início da idade adulta na casa dos pais, na Babaçu, e na residência da sua avó, na Santa Cruz. Foi, portanto, na região do Nordeste de Amaralina que adquiriu “régua e compasso” para traçar seus caminhos pelo mundo. Dançarina e capoeirista, Stephanie se inspirou no pai, Nadinho, professor de capoeira e ex-membro do Balé Folclórico da Bahia, grupo no qual ela também faz parte hoje em dia.
“Venho de uma família de artistas. Mas é meu pai a minha maior fonte de inspiração. Foi ele quem me apresentou ao universo artístico da capoeira. Sempre ouvi músicas do esporte, ainda na barriga de minha mãe. Com três anos já brincava nas rodas. Fui aí tomando gosto… Já a dança, sempre fui incentivada por minha mãe, seja em casa ou em festas… Aos dez anos, pude participar das aulas de dança afro no antigo Viva Nordeste”.
“Posteriormente, após uma aula de dança de técnica silvestre, decidi investir de vez nesse universo. Vi que era isso mesmo que eu queria. Comecei, então, a fazer aulas no Balé Folclórico Junior. E aí não parei mais… Aos 17 anos, ingressei no grupo profissional da Funceb e comecei a trabalhar com dança. Na capoeira, faço parte do grupo Topázio, apesar de estar um pouco afastada por motivos profissionais.”. Através da sua arte, a jovem rodou o mundo com apresentações na Itália, onde ficou por nove meses, e China, onde ficou em cartaz por 2 meses.
O concurso – De acordo com a jovem, a possibilidade de tornar-se a rainha do mais tradicional bloco afro do carnaval baiano é um sonho alimentado por sua mãe desde a infância. “Ela sempre me viu nesse lugar. Desde pequena me dizia: você é minha deusa do ébano… Sempre tive vontade, mas acabava sempre deixando para o próximo ano. Até que resolvi tomar coragem e me inscrevi. No dia 6 de dezembro, dia do meu aniversário, recebi a notícia que havia sido pré-selecionada”, explica.
“Chegando lá vi mulheres lindas, maravilhosas… Quando fui chamada, foi uma emoção muito grande. Uma felicidade enorme já estar entre as 15… O que o concurso Deusa do Ébano do Ilê Aiyê traz e representa para uma mulher negra e periférica, é surreal. Estou ainda em êxtase”, comemora.
Raízes – Perguntada sobre a importância do Nordeste de Amaralina na sua formação, Stephanie não titubeia em se declarar ao bairro, onde passou a maior parte da sua vida:
“É minha paixão… É um local, que apesar de ser tratado sempre de forma negativa pela mídia, tem muita coisa boa, muitos artistas e atletas, que precisam dessa visibilidade. É muito importante estar representando o meu bairro de origem. Quando me perguntam de onde sou, digo logo: Sou do Nordeste!”