“ No Nordeste tem muito pai e mãe de família trabalhador, que se esforça para conseguir as coisas, assim como meus pais se esforçaram para me fazer ser quem sou hoje ”
Graças ao projeto Neojiba, diversos talentos musicais foram descobertos no Nordeste de Amaralina, e dentre eles, Caio Brito, violoncelista profissional, que nasceu na comunidade e hoje já visitou países como França, Suíça e Itália, mostrando todo o talento que desenvolveu dentro do Nordeste de Amaralina.
Para ele, a caminhada foi árdua, precisou vencer as barreiras do preconceito e seguir em frente acreditando em si próprios o tempo inteiro. A diferenças de classes e o choque cultural é gritante, e Caio teve que aprender a lidar com isso na prática — “ O público que visita uma casa de Ópera na França por exemplo, é um público totalmente diferente do que existe aqui. Tive que lidar com o choque de realidade, ao chegar no meu bairro é perceber que existem pessoas que nem sabem o que é música clássica ” , ele conta.
O racismo também se faz presente, como conta neste relato — “ Uma vez eu estava no ônibus e uma senhora branca me perguntou pra onde eu iria com aquele instrumento, eu respondi que eu estava indo para o ensaio da orquestra, e ela disse coisas como ‘ Como você pode tocar esse instrumento tendo esse cabelo e essa cor de pele ? ‘ , duvidando que eu, negro, pudesse tocar um instrumento de elite em uma orquestra. Até quando a cor da minha pele ou o tipo do meu cabelo vai definir se eu consigo ou não fazer alguma coisa ? Muita gente ainda pensa que o negro não pode tocar música clássica ”
Quando questionado se já pensou em desistir, responde sem duvidar — “ Com certeza. A vontade de desistir sempre vem, mas quando você olha pra trás e percebe quanta coisa você já realizou, que outras pessoas queriam realizar, você coloca um sorriso no rosto e continua lutando por aquilo ”
O Nordeste de Amaralina é palco pra muitos talentos, daqui saem músicos, atores, cantores, verdadeiros artistas, e são jovens como Caio que estão cada vez mais ocupando os lugares que nos pertence por direito dentro da sociedade. Que os espaços possam ser preenchidos cada vez mais por pessoas como Caio, igual a todos os outros, capaz de conquistar o que quiser, e levando as suas raízes cultivadas aqui por onde quer que vá, mostrando que o Nordeste também possui as sua beleza.
Hoje, Caio atua como Violoncelista na Orquestra Juvenil da Bahia, e já foi professor de violoncelo na Orquestra Castro Alves.
— “ Pra mim é um privilégio ser uma referência no bairro, e levar a cultura daqui por onde passo ”, finaliza.
