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Maria de Jesus da Silva: A dor de uma favela inteira

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Infelizmente, nesta sexta-feira (28), mais uma moradora do Complexo do Nordeste de Amaralina nos deixa. Mas Dona Maria não nos deixou pelas causas naturais da vida. Ela nos foi arrancada. Foi vítima da violência brutal que nos assombra todos os dias. Uma bala perdida interrompeu sua existência.

Dona Maria de Jesus da Silva, 87 anos, havia acabado de almoçar. Ela nem teve tempo de levá-lo até a pia. Sentada em sua própria casa, no lugar onde deveria se sentir protegida, foi surpreendida por um tiro que atravessou a vidraça. Sim, dentro de sua residência. Sua casa. O espaço onde qualquer ser humano tem o direito de encontrar paz. Mas não teve. Porque neste pedaço de cidade que chamamos de lar, a violência não pede licença. Ela entra. Arrebata. Mata.

O tiro atingiu o braço de Dona Maria. Foi socorrida, mas não resistiu. Morreu no hospital. E ainda houve quem dissesse: “ainda bem que foi no braço”. Como se isso fosse um alívio. Como se tivéssemos que nos conformar com o “menor dos problemas”, com o “menos pior”. Mas não. Não é “ainda bem que foi no braço”. Não deveria ter sido no braço. Não deveria ter sido em lugar nenhum. Não deveria ter sido.

Imagine por um instante. Dona Maria acordou naquela manhã sem saber que seria sua última. Ela seguiu sua rotina, talvez tenha planejado alguma coisa para o dia seguinte. Talvez tenha lembrado dos seus parentes, dos amigos. Preparou seu almoço, sentou-se para comer. Ligou a TV. E então… um disparo.

Eu quero te convidar a imaginar essa cena. A ver Dona Maria nos seus últimos momentos. A sentir o que essa perda representa para cada um de nós. Porque ela não era só Dona Maria. Ela era a bisa, a vó, a mãe, a tia de todos nós no Complexo do Nordeste de Amaralina. Quando um de nós cai nessa guerra não declarada, todos caímos juntos. Sofremos juntos. E seguimos… Mas seguimos como?

Já não basta sobreviver com as dificuldades diárias que nos impõem, ainda precisamos lidar com o medo de não ter paz nem dentro de casa? Até quando? Até quando vamos perder os nossos? Até quando vamos chorar, gritar e não sermos ouvidos? Até quando?

Hoje, Dona Maria de Jesus da Silva se torna símbolo de um luto que não termina. Mas ela também se torna voz. Porque não podemos mais aceitar. Não podemos mais normalizar.

Maria de Jesus da Silva, presente! Hoje e sempre, em cada um de nós.

Robert Santos
Robert Santos
Um taurino falando de tudo um pouco. Vez ou outra o assunto é sério. Tô sempre procurando maneiras melhores de viver a vida e reclamando no caminho porque ninguém é de ferro.

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