Foi no Largo do Capim, no Nordeste de Amaralina, que nasceu, em 1987, um dos grupos de samba junino mais tradicionais de Salvador. Fundado por moradores da comunidade, o Grupo Cultural Unidos do Capim logo conquistou as ruas do bairro, atraindo multidões para os seus animados ensaios.
Segundo Tenilson dos Anjos Casais, mais conhecido como “Sinho Revoluções”, cantor e um dos líderes do grupo, o Unidos nasceu do desejo da comunidade de contar com uma representação própria para a sua rua.
“O grupo foi fundado por Dona Angélica e Seu Roberto, ambos já falecidos. Era um tempo de ouro no cenário cultural do Nordeste de Amaralina. Desde sempre, fiz parte do grupo, na ala de canto. Os ensaios aconteciam aqui mesmo, na quadra do Unidos do Capim, aos sábados à noite. Isso aqui ficava lotado. Na véspera de São João, aconteciam os arrastões juninos, que reuniam muita gente. Partíamos do Capim, passando pelo Vale das Pedrinhas e Santa Cruz, onde nos encontrávamos com outros grupos. Ninguém fazia questão de viajar, pois o Nordeste parava para ver os grupos de samba junino desfilar.”
Composta por Sinho, em parceria com Sérgio, a música “Revoluções – Plante a Paz” marcou a trajetória do grupo. Gravada pelo próprio Sinho ao lado de Daniela Mercury, a canção ultrapassou as rodas de samba do Nordeste de Amaralina e conquistou toda Salvador, tornando-se um dos grandes sucessos do Carnaval de 1988.
“O empresário Manolo Posada resolveu fazer um LP com os melhores grupos juninos de Salvador. Nós fomos contemplados para participar desse LP. Como ele era empresário de Daniela Mercury, que estava saindo da Cia Click, ela dividiu comigo a faixa Revoluções, que foi gravada nos estúdios da WR. Posteriormente, a canção foi gravada pelo grupo Made In Bahia.”
A falta de investimentos dos empresários, o surgimento do axé e do pagode, além do aumento da violência nas ruas do bairro, enfraqueceram o movimento, que ainda existe, porém sem a mesma força de antes. O Unidos, no entanto, resistiu até o ano de 1991.
“Foi um movimento muito forte na época… Faltou apenas que os empresários apoiassem, como fizeram com o axé music. Com o tempo, o movimento foi enfraquecendo e os grupos de samba junino de Salvador foram desaparecendo. Mais tarde, criamos o QG do Pagode, junto com Itamar, Zózimo Conceição e outros companheiros. Esse grupo também foi um grande sucesso e continua existindo até hoje, com o bloco que desfila no circuito Mestre Bimba.”
Nascido nas rodas de samba junino do Nordeste de Amaralina, o cantor Xexéu — que mais tarde ganharia projeção nacional como vocalista da Timbalada — era presença marcante nos ensaios do grupo, onde viveu suas primeiras experiências com o microfone. Com saudade, o músico relembra os tempos em que se apresentava para a comunidade onde nasceu e cresceu:
“O Unidos atraía cantores de todas as partes de Salvador. Todos tinham o desejo de conhecer o Unidos do Capim. Roberto era o presidente do bloco, que contava com uma ala de canto muito bonita. Entendíamos que o samba de roda não podia pagar em dinheiro aos cantores — fazíamos aquilo por amor. Eu mesmo compus músicas junto com Cinho e chegamos a ganhar festivais. Foi uma verdadeira escola para mim.”
Retorno – O Unidos do Capim será uma das atrações do Arraiá do NES, que acontece neste sábado (28), no final de linha do Nordeste de Amaralina. A diretora social do Nordesteusou e integrante do grupo compartilhou a expectativa de ver o Unidos do Capim novamente em destaque no cenário cultural do bairro:
“Participávamos de festivais em diversos bairros de Salvador e, na maioria das vezes, saíamos campeões. Minha mãe chegou a ser madrinha do grupo, responsável pela escolha da rainha e da princesa. Muitas pessoas que fizeram parte dessa história já não estão mais entre nós. Agora, estamos de volta para resgatar a cultura do nosso bairro, que é o samba de roda. Juntamente com Itamar e Sinho retomamos esse trabalho a fim de realizar uma apresentação marcante, unindo nossos músicos e a força da comunidade.”
