Quinta-feira, 5 de outubro de 2025.
Acordei cedo, cumpri meus afazeres e segui minha rotina de sempre: atividade física pela manhã, depois o dia que segue. Tudo normal, ou pelo menos, o que chamamos de “normal”.
Mas o que é normal para quem vive no Complexo do Nordeste de Amaralina Normal é continuar, mesmo depois que uma criança, filha desse mesmo chão, foi atingida por uma bala perdida. Uma criança que, na sua inocência, ainda acreditava que o mundo podia ser bom.
E não é só ela. Basta pesquisar: há muitos nomes, muitos rostos, muitas histórias interrompidas por essa violênca que insiste em morar aqui. São filhos e filhas do Complexo. Vítimas de um sistema que, quando olha pra nós, quase nunca enxerga.
Aqui, a gente segue convivendo com as mazelas, faltas de oportunidades, de escuta. O Nordeste sempre foi um bairro de gente forte, mas que vive tendo que se adaptar, se calar, se refazer.
Por que sempre temos que aceitar o mínimo?
Por que não somos respeitados, nem ouvidos?
Ano que vem é 2026, mais um ano de eleição. E como sempre, eles virão.
Com promessas decoradas, com sorrisos ensaiados, com cargos públicos de “agrado”.
Tentarão, mais uma vez, nos calar com migalhas.
Mas os problemas continuam.
São tantos que nem cabem num texto só.
E a verdade é que cansa. Cansa ter que repetir, ter que cobrar, ter que gritar pra ser notado.
Mas desistir nunca foi o nosso verbo.
Pode até parecer cansativo, mas somos incansáveis.
Enquanto houver um sopro de vida, seguiremos lutando por nós e pelos nossos.
Cresci vendo isso: gente que divide o pouco que tem, uma farinha, um ovo, uma margarina. Gente que cuida do filho da vizinha, que avisa com o olhar quando o perigo ronda. Que dá bom dia na rua, mesmo sem saber o que o dia vai trazer.
Esse é o Nordeste de Amaralina.
Um lugar onde a dor é real, mas a solidariedade também é.
Onde a luta é diária, mas o amor pela comunidade fala mais alto.
E por mais que a rotina pareça “normal”, nós sabemos: não há nada de normal em fingir que nada aconteceu.
Seguimos nossos compromissos, pagamos nossas contas, mas não fechamos os olhos.
Enquanto houver voz, nós denunciaremos.
Enquanto houver força, nós cobraremos.
Enquanto houver cultura, fé e união, nós seguiremos resistindo.
Porque aqui, o que realmente importa, é a nossa comunidade.
E dela, ninguém cala a voz.