Alan Oliveira, mais conhecido como Flash, morador do Nordeste acaba de estrear sua primeira exposição fotográfica, com nove obras que capturam a beleza e a força da vida na periferia.
O interesse pela fotografia nasceu do desejo de se aproximar da cena do rap. “Eu comecei na fotografia porque eu tinha muito interesse em entrar no rap de alguma forma. Aí eu vi o audiovisual como uma opção de estar inserido nessa área”, conta. Ele chegou a iniciar um curso de vídeo, mas a pandemia interrompeu as aulas. “Trabalhei na praia, juntei uma grana e consegui comprar uma câmera. Comecei na rua mesmo, mexendo nos botões”, diz, com orgulho.
Autodidata, Flash construiu o próprio caminho com curiosidade, vontade e sensibilidade. “Nunca tive formação audiovisual, nem terminei o curso que comecei. Tudo que eu aprendi, aprendi sozinho, na marra, na força da vontade”, explica.
Suas fotos mostram aquilo que ele vê todos os dias: os trabalhadores locais, os ambulantes, os recicladores, o gari, a mulher da pamonha, o cara do mel. “Essas pessoas me inspiram. Eu me sinto lisonjeado em representar elas. São pessoas que me fazem enxergar arte em cada gesto, em cada movimento da rua”, afirma.
É esse cotidiano que ele chama de “a beleza que encanta a favela”, o comércio na porta de casa, os sons, as cores, as histórias. “Eu sempre vi arte nessas pessoas, sempre vi beleza na movimentação do bairro. É essa realidade escondida que eu quero mostrar”, demonstra.
Além de fotógrafo, Flash é também organizador e mobilizador cultural. Foi ele quem criou o Complexo das Artes, uma ação que transformou muros marcados pela violência em paredes coloridas de esperança. “A ideia era apagar todas as marcas e substituir por arte. As crianças pintaram, os moradores pintaram, os grafiteiros também. Foi algo muito massa, onde todo mundo pôde contribuir”, lembra.
A fotografia também o levou a atuar em movimentos sociais e causas comunitárias, como a Sopa Solidária e o Movimento de Luta nos Bairros (MLB). “Eu sei que nem sempre posso contribuir financeiramente, mas tenho uma ferramenta que posso usar pra mostrar o que acontece. Quando as pessoas veem, elas se movem pra ajudar”, explica.
Entre tantos trabalhos, Flash também já fotografou o Carnaval do Circuito Oficial Mestre Bomba (Nordeste de Amaralina) a volta da folia momesma no Cosme de Farias, o time Punanny, e o lançamento do jornal Voz da Comunidade, experiências que consolidaram sua visão sobre o poder da imagem.
Mas é nessa primeira exposição que ele se reconhece de verdade como artista. “Eu me sinto responsável por mostrar o lado sensível do nosso bairro. É um bairro discriminado, mas cheio de vida, cheio de gente trabalhadora e talentosa. Quero que vejam o que eu vejo”, finaliza, orgulhoso.




