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44ª Edição do presente de Amaralina acontece amanhã

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O ritual se repete em todo segundo domingo do mês de janeiro: Adeptos e simpatizantes das religiões de matriz africana, além de pescadores partem da Olaria e percorrem as ruas do Nordeste. O som do ijexá e o rufar dos atabaques chamam à atenção da comunidade. O cortejo carrega os balaios com oferendas à Iemanjá, a grande homenageada do dia.   O destino é a praia de Amaralina, onde serão despachados os presentes.

HISTÓRIA – A tradição já dura 44 anos. Os mais antigos explicam que a festa começou na década de 70, quando a construção de um emissário submarino no Largo da Mariquita, no Rio Vermelho, acarretou com a mudança de local da colônia de pesca do bairro. Os pescadores então se dividiram: enquanto uma parte migrou para o Largo de Santana, um outro grupo se alojou em Amaralina. Surgiu assim a colônia de pesca Z1. Se, aproximadamente desde o ano de 1923 (segundo o historiador Cid Teixeira), os pescadores já tinham o hábito de cultuar Iemanjá e fazer a entrega do presente no dia 2 de fevereiro, os pescadores assentados na nova colônia criaram a tradição do presente de Amaralina. A data escolhida foi o primeiro domingo após a lavagem do Bonfim. No livro “ Traços e Laços – Memórias da Região do Nordeste de Amaralina”, Dona Carmelita Santos, antiga moradora do bairro e frequentadora assídua da celebração, explica  que “a festa do Rio Vermelho era “beber e se diertir”, e na Amaralina para dar o presente a Iemanjá”.

FESTA – Entre o final dos anos setenta e medo dos anos 90 a entrega do presente de Amaralina era cercada de grande expectativa na comunidade. Palco, barracas de bebidas e comidas movimentava toda a região da praia. O sagrado e o profano se misturavam. O alvoroço começava no sábado à noite e culminava com a entrega dos balaios no meio da tarde de domingo.

CRISE – O esvaziamento de grande parte das chamadas festas de largo vitimou também a festa de Amaralina. Descaso do poder público, desinteresse dos pescadores em realizar a festa, perseguição por parte dos moradores do entorno à praia, que se viam incomodados em meio a algazarra, são alguns dos motivos apontados como causas do enfraquecimento do evento. Morador do Alto do Areal há 49 anos, Jorge Bonfim opina que a crise da festa, assim como aconteceu com a lavagem da Pituba, é resultado da reivindicação de moradores das redondezas

que se achavam prejudicados com a festa. “Os governantes por serem amigos ou parentes dessa gente e também para economizar dinheiro, começou a esvaziar as festas. A festa era realizada por pescadores, baianas de acarajé, mães de santos e pessoas que aproveitavam esse momento para melhor a sua renda. Nem isso sensibilizou os governantes”, lamenta.

Almir Odun Ará, líder do afoxé Bamboxé e entusiasta do evento, relata que começou a frequentar a festa ainda na época de seu Aloísio, pescador antigo da colônia Z1 e um dos idealizadores do presente. “O presente ainda era cheio de gente e com uma organização legal. Até que seu Aloísio faleceu e a gente formou o afoxé Bamboxé com o objetivo, inclusive, de fortalecer o presente. Estamos há oito anos na resistência. Já chegamos a sair com um atabaque e um agogô. Amanhã será resistência novamente”, explica Almir. Odun Ará afirma que foi entregue um projeto na prefeitura, através da Saltur, mas reposta que é bom nada. “Como sempre vamos cantando convidando nosso povo. Não vai ter a estrutura e o investimento que deveria ter, mas vamos fazer isso”.

Esses anos quatro balaios serão despachados nas águas de Amaralina e ofertados à rainha do mar. A concentração será às 14h, na Olaria. Odoyá, minha mãe.

Tiago Queiroz
Tiago Queiroz
Graduado em Comunicação/Jornalismo, e exerce as funções de Editor e Coordenador de Jornalismo do Portal NORDESTeuSOU

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