Da Escola Municipal Teodoro Sampaio para os grandes tribunais do mundo. Esse é Rodrigo Menezes Coelho, um dos orgulhos do Nordeste de Amaralina. Nasceu na zona rural de Castro Alves no dia de 22 de setembro de 1989. Filho de mãe solteira, Rodrigo passou a infância sob os cuidados da avó e da bisavó, no interior. Pois, para sustentar o filho, Dona Loizia, sua mãe, trabalhava como empregada doméstica e costureira em Salvador.
“Eu a via uma ou duas vezes por ano e todas as vezes que ela partia parecia que um pedaço de mim ia junto”, lembra emocionado.
Na cidade onde nasceu e passou os primeiros anos de vida não havia luz elétrica, água encanada, nem asfalto. A escola ofertava vagas a 4ª série do ensino fundamental. “Quando o aluno completava os estudos não havia muitas escolhas> ou ia trabalhar na roça, no caso dos garotos, ou se tornavam “escravas” trabalhado como empregadas domesticas e dormindo nos serviços, como ocorria com as meninas”, conta Coelho.
Quando finalmente veio morar ao lado da sua mãe, em Salvador, Rodrigo desembarcou no bairro da Santa Cruz, mais precisamente na Rua Olegário Mariano.
Matriculou-se na Escola Municipal Arthur de Sales e, posteriormente, foi para a Escola Teodoro Sampaio, onde ficou até a 8ª série. “Ali fiz amigo, professores, colegas e irmãos quem me acompanham até a data de hoje. Fui um dos primeiros monitores de informática da escola, organizava campeonatos de futebol, gincanas, participamos de diversos projetos que já buscava melhorar a escola”, conta orgulhoso.
Cursou o ensino médio no saudoso, Colégio Estadual Odorico Tavares, onde iniciou sua trajetória política. Na unidade, foi um dos fundadores e presidente do “Grêmio Estudantil Revolucionários do Odorico Tavares”. A experiência adquirida no movimento estudantil é vista por Rodrigo como de suma importância na sua formação: “No grêmio estudantil defendi o direito de uma escola pública de qualidade e inclusiva, participei ativamente da revolta do buzu contra a alta das passagens de ônibus em Salvador e lutei incansavelmente para que a Secretaria de Educação melhorasse as condições de ensino na escola, denunciou a escola através de programa de televisão e defendeu a greve dos estudantes que ensejou na exoneração da direção da escola”.
Formação – Findado o segundo grau, Rodrigo insistia em contrariar o fatídico destino dos jovens moradores da periferia. Tinha em sua mente o desejo de se tornar “doutor” e realizar o sonho da sua bisavó, que apesar de analfabeta, costumava lembrar ao bisneto que o estudo era a coisa mais importante que um homem poderia ter. Ingressou então na Faculdade de Engenharia, após ter conseguido uma bolsa de estudos do PROUNI. Apesar de não ter se tornado engenheiro, Rodrigo mais uma vez mostrou sua liderança nata, tendo sido eleito presidente do Diretório Acadêmico de Engenharia da Computação da Faculdade Área 1.
No curso de Direito, o jovem viu a chance de realizar o desejo de lutar contra as injustiças e defender, sobretudo, aqueles que se encontram às margens da sociedade falaram mais alto. Tornou-se presidente do Diretório Acadêmico de Direito Dr. Waldir Pires, da Escola Baiana de Direito. Colou grau no dia 2 de janeiro de 2011, sendo um dos destaques e orador da turma. No ano de 2011 foi aprovado no exame da ordem dos advogados do Brasil, passando a poder ser chamado Advogado e realizando assim o sonho da sua bisavó.
E não parou para aí: hoje, Rodrigo é mestre em Estado, Governos e Políticas Públicas, além de especialista em Gestões Estratégicas de Políticas Públicas, pela Perseu Abramo e UNICAMP. Seus esforços lhe credenciam para voos mais altos, mas sempre focado na luta pelos direitos dos mais necessitados, como ele mesmo costuma ressaltar: “Quero continuar lutando pelas comunidades periféricas , precisamos ser ouvidos e para isso, muitas vezes, precisamos ocupar outros espaços em que a sociedade escute a nossa voz”, frisa o jovem advogado.
Nordesteusou – Um capítulo à parte na vida do jovem se deu no ano de 2011, onde ao lado de Jefferson Borges, um velho amigo dos tempos do Teodoro Sampaio, fundou o Nordesteusou (NES). “Ajudar a fundação no NES foi extremamente importante, sobretudo para poder conhecer a fundo todas as dificuldades da nossa comunidade. Há 9 anos andamos por todos becos, ruas e vielas desta comunidade e posso dizer que conheço cada pedaço e sei das nossas necessidades. A comunidade tem um canal que de fato é cara do Nordeste de Amaralina”, completa.
Nordeste de Amaralina – Uma paixão? O Nordeste de Amaralina. “O Nordeste é minha casa, aqui eu tenho meus amigos, meu povo, minha gente. Berço cultural e de um povo de resistência. Me orgulha muito poder dizer que sou filho desta comunidade”.