Setembro é tempo de tradição na Bahia. É o mês do caruru, das festas de São Cosme e Damião e também das homenagens aos orixás Ibejis. O período traz consigo uma marca cultural e religiosa. Para compreender melhor o significado dessa prática, nossa equipe esteve no terreiro de Mãe Selma, que explicou a importância desse costume.
Segundo ela, o caruru nasceu da adaptação feita pelos povos escravizados. “O caruru, ele se brasileirou a partir da escravidão. Eles vieram pra cá e não tinha o mesmo material que tinha lá. Então foi adaptado pra gente, com piaba, e aí virou caruru”, contou.
Mais do que um prato típico, o caruru carrega em si o valor da partilha. “Toda vez que você vai fazer uma comida pra oferecer ao orixá, a gente nunca faz pouca, né? Porque o candomblé, ou o culto ao orixá, a gente nunca come só. A gente divide aquilo que a gente recebeu, é como se fosse uma grande comunhão”, explicou.
Para Mãe Selma, a tradição representa prosperidade e fartura. “Ser escolhido pelo orixá é muito bom. Quer dizer que, através daquele caruru, você vai ter um ano de prosperidade, um ano de fartura. E, a partir do momento que você recebe toda aquela graça, você pode dividir a sua graça com as pessoas”, relatou, ao ser questionada sobre a tradição de ter que dar caruru no ano seguinte, caso encontre um quiabo inteiro no prato.
Ela lembra ainda que a simbologia vai além da comida. “Na grande verdade, o caruru é uma confraternização dos orixás. Tem o abará, tem o de Xangô, tem o acarajé de Iansã, o arroz de Iemanjá, a farofa que vem de Exu, e os doces que vêm das crianças. Nada mais é do que a centralização de todos os orixás”, explicou, destacando que cada alimento que compõe o prato faz referência a uma divindade.
Mesmo diante das mudanças da vida moderna, Mãe Selma reforça a importância de preservar a tradição. “Hoje tá difícil da gente dar um caruru e ter sete meninos por casa. Mas no final das contas, o importante é celebrar”, finalizou.