Na manhã desta sexta-feira, 31/10, a 3ª Conferência de Jornalismo de Favelas e Periferias deu início à programação voltada para o jornalismo local com a mesa “Como as iniciativas de jornalismo podem acessar a filantropia?”. O diálogo foi construído pelos convidados Fabiana Sousa, da Fundação Itaú, Luiz Gustavo Costa, da Fundação Konrad Adenauer (KAS), Raísa Cetra, da Artigo 19 e Daiene Mendes, do Fundo de Apoio ao Jornalismo (FAJ).
Primeira mesa da 3ª Conferência de Jornalismo de Favelas e Periferias discute filantropia para iniciativas jornalísticas. Foto: Igor Siqueira
A conversa, mediada por Monique Silva, gestora de projetos do Fala Roça, e Anderson Meneses, diretor de negócios da Agência Mural, refletiu sobre a lógica operacional da filantropia para iniciativas jornalísticas. Além disso, listou dicas para aumentar a chance de financiamento. Para os debatedores, é necessário atuar em rede, fortalecer diálogos coletivamente e pensar em temáticas diversas para se relacionar com parceiros.
Para Daiene Mendes, diretora programática do FAJ, o campo do jornalismo local e periférico sofre historicamente com a desigualdade de financiamentos. Ela reforçou a importância de veículos jornalísticos conquistarem recursos de instituições.
“O FAJ é uma experiência que se apropria de recursos filantrópicos, mas, na prática, busca uma atuação mais democrática. Entendemos que pela escassez de recursos, esses projetos [jornalísticos] demandam mais prioridade”, disse Mendes.
Para ela, é importante manter um relacionamento com possíveis apoiadores. “A filantropia opera por meio do relacionamento. É uma lógica de confiança, é como um namoro. Essa é a dinâmica. Financiamento é relacionamento e leva tempo, então, façam isso.”
Daiene Mendes (esquerda), Anderson Meneses (centro) e Raísa Creta (Direita) discutem sobre a importância da filantropia. Foto: Igor Siqueira
Os debatedores também mencionaram a crise da filantropia moderna. “O modelo está em crise e o nosso apoiador não é mais o Estado, temos agora outros apoiadores. A extrema-direita no Brasil está avançando, assim como Donald Trump, Javier Milei e isso afeta a política de filantropia”, comentou Raísa Creta, codiretora executiva da Artigo 19.
As doações filantrópicas para o terceiro setor diminuíram drasticamente. Só em 2024, há uma redução de 67% nos bens repassados para organizações sem fins lucrativos, segundo pesquisa da Doação Brasil.
Mas também há um movimento positivo que acontece no Brasil e em outros países. A cooperação internacional de governos e instituições atuam em conjunto com a filantropia, como a KAS e a Fundação Itaú. Para Luiz Gustavo Costa, coordenador de projetos da KAS, a parceria internacional é fundamental para democratizar a educação e a informação.
“Temos que fortalecer o diálogo com a sociedade civil e pensar que o jornalismo é um braço para potencializar a democracia. Nós [da KAS] tentamos ampliar o acesso à democracia e a informação por meio da educação política, apoiando instituições como o Fala Roça e um evento como a conferência”, destacou Costa.
Já Fabiana Sousa, gerente de parcerias da Fundação Itaú, relembrou que, para além de ter políticas institucionais, há um desejo pessoal de colaboradores dentro de instituições filantrópicas para trabalhar com mídias independentes.
“Tem que se criar um trabalho em rede, tanto nas instituições privadas como na dos próprios veículos. Temos que fazer um conselho do terceiro setor voltado para a comunicação, porque é difícil chegar em uma instituição hegemônica e ter acesso ao financiamento”, completou Sousa.
A 3ª Conferência de Jornalismo das Favelas e Periferias é apresentada pela Fundação Itaú, e conta com o apoio da Fundação Konrad Adenauer, Fundo de Apoio ao Jornalismo, Meedan e ARTIGO 19.
SOBRE O FALA ROÇA
O Fala Roça é uma associação dedicada a fazer jornalismo a partir da Rocinha, com a missão de promover a cultura, a identidade e a representatividade da favela sem, contudo, romantizar as dificuldades. O veículo busca construir narrativas mais humanas, focando nas pessoas e utilizando o jornalismo de soluções para promover melhorias no território.
SOBRE A AGÊNCIA MURAL DE JORNALISMO DAS PERIFERIAS
Fundada em 2010, a Agência Mural é uma organização sem fins lucrativos com a missão de reduzir a desigualdade informacional nas (e sobre as) periferias da Grande São Paulo, contribuindo para o combate a estereótipos e outras formas de desigualdade.




