Dos seus 42 anos, 14 já são dedicados à Corporação. O início dessa jornada, segundo a própria, começou de maneira meio diferente. “Eu sou professora. Comecei a ensinar com 14 anos. Quando eu chegava nas escolas via muita violência. Sempre pensava ‘como vou trabalhar com tanta violência?’. Aí fiquei um pouco preocupada”, relembra.
Na viagem ao tempo durante, ela recorda que, depois do ‘baque’ recebido nas salas de aula, veio a ideia de prestar concursos. “Minha paixão era o ensino, mas aí pensei ‘preciso de emprego fixo’. Passei concursos do Banco do Brasil e Caixa Econômica, por exemplo”.
Um dos certames tocou o coração daquela jovem que nasceu no bairro da Liberdade. “Um belo dia fiz o da polícia e passei. Entrei para curso de formação de soldado e vi um mundo lindo lá dentro que as pessoas não vêm de fora. Como nossa profissão é maravilhosa, como ela é linda. E como não posso me envolver com as aspectos negativos dela. Por isso faço meu trabalho diferente e isso choca as pessoas”, diz.
“Hoje a gente sabe que não existe mais a divisão ou função específica para as mulheres. Nós já estamos em todos os postos de trabalho que um dia foram destinados apenas para homens, como as policiais militares, as engenheiras e muitas outras mulheres que já romperam essa barreira”, diz.
POLÊMICAS
Nos dois anos que chefia da base, a oficial acumula duas ações que foram estranhadas por policiais militares que não conhecem o “jeito Sheila”. A primeira delas foi uma blitz “Rosa”. O detalhe é que as viaturas estavam enfeitadas com balões cor de rosa. “Antes de fazer comuniquei ao comandante geral. Não seria só as bolas, seria também os fundos das viaturas. O que as pessoas não conseguem entender é que somos seres humanos como qualquer outro. Estamos fazendo um trabalho de aproximação. As pessoas precisam nos enxergar como elas”, conta, meiga.
A outra situação aconteceu durante um enterro. Chegou a se dizer nos bastidores da PM que Sheila teria comparecido ao funeral de um traficante. “Vou para vários enterros. Me chamou, estou dentro. E mesmo que fosse não seria um problema. Se a comunidade me chama, é o meu papel. O que aconteceu foi o seguinte: uma mãe perdeu sua filha que morreu em uma bala perdida após confronto envolvendo policiais e criminosos. No que ela foi a óbito, foi feito o sepultamento. Eu fui convocada pelo comandante [da 40ª Companhia Independente] porque todo mundo disse que ia ter manifestação e todas as Rondesp também foram convocadas”, relembra.
A capitã esclarece ainda que, naquela data, garantiu uma manifestação. Me antecipei e encontrei os manifestantes parando a rua. Disse para eles: ‘vão com tranquilidade pois se vocês observarem tem muitos policiais ali esperando qualquer ação negativa’. Voltei correndo e mandei todas as [viaturas da] Rondesp voltarem. Eu acompanhei eles [familiares] até em casa e, hoje, ela [mãe da vítima] me tem como filha”, esclarece a capitã.
SOU HUMANA, E VOCÊ?
“Sou um ser humano como você, como qualquer outro. Todas as atividades que faço é em prol da comunidade, da nossa segurança. Futuramente, aquela criança que estou cuidando hoje não vai me matar, não vai matar você”.
Essa frase resume muito bem o perfil da capitã Sheila. Ela acredita na “humanização” como forma de comandar e começa na base da formação. “Porque temos reduzido aqui o número de crianças pedindo dinheiro nas sinaleiras durante o Natal? Elas não vão mais pois ocupo elas. Faço palestras também nas escolas, não paro”.
Enquanto nossa equipe de reportagem estava na base, várias pessoas passavam pelo local e cumprimentavam a oficial, que sempre respondia. Além disso, a oficial, que não tem filhos, trata os seus comandados com gestos de carinho e gratidão. E tudo isso já rendeu premiações. Ela conta com orgulho que ganhou duas medalhas, uma da corporação e uma da Câmara dos Vereadores de Salvador pelos serviços prestados.