Por Bnews
Quem conheceu Luiz Caldas nos anos 80 e 90, com cabelos ao vento e descalço em cima do palco, hoje nota que o ‘Pai do Axé’ adota um estilo diferente. Aos 58 anos, o cantor e compositor opta por botas, unhas pintadas de preto, mas sempre mantendo a cabeleireira característica.
A mudança, segundo ele, é um processo de evolução que acontece naturalmente com o tempo. “Ninguém permanece igual, tudo muda. Tudo tem sua beleza, dependendo da época”, disse em entrevista ao jornal O Globo ao falar da mais nova indicação ao Grammy Latino 2021.
A nomeação veio com o disco “Sambadeiras”, um dos 116 álbuns ao longo da carreira, número alcançado desde que começou em 2013, o projeto de lançar um disco por mês, com parceiros como Seu Jorge, Zeca Baleiro, Sandra de Sá, Gilberto Gil, Chico Cesar, entre outros). As canções vão do do metal ao afro, passando pela salsa, pop e sertanejo e somam mais de mil músicas.
No entanto, entre elas não se pode mais encontrar um dos seus maiores sucessos, o hit “Fricote”, canção que ficou conhecida como marco zero do axé music. Isso porque ele parou de apresentar a canção que traz os versos “nega do cabelo duro/ que não gosta de pentea”, que passou a ser considerada racista por muitos.
Quem fez essa música virar sucesso foi o povo da Bahia, cuja maior parte é negra. Ofereço esse disco, está escrito lá, aos meus pais, minha cunhada e aos negros da Bahia. Se eu tivesse o intuito de sacanear… Inclusive meu parceiro de compostição, Paulinho Camafeu, é negro. Como se explica isso? Existem várias músicas que falam desse universo e não cabem hoje. Hoje, não canto “Fricote”, acho desnecessário. Se tivesse só um sucesso, como muitos artistas, teria que cantá-la até morrer para me sustentar e sustentar minha família. Mas tenho muitos. Acho que “Fricote” cumpriu o papel dela, de ser o elo com essa corrente toda que chama axé music”, justifica.
Para Caldas, a canção ficará com seu lugar eternamente guardado na história. “Além do saudosismo, elas vão ficar na história como exempslo de coisas que aconteceram. Não se pode falar de axé music, de Banda Eva, de Ivete Sangalo sem falar de “Fricote”. Só existem eles porque existiu ela. Mas não há necessidade de cantá-la. Já que as coisas estão mudando, vamos em frente. Mas não vou apagar o que fiz, tenho o maior orgulho dela, mas posso me dar ao luxo de não cantá-la em público”.