Jairã Andrade dos Santos, 53 anos, é daquelas que têm orgulho das suas origens. Filha de uma conhecida rezadeira da região do Nordeste de Amaralina, dona Dina de Oyá, falecida em 2019, Dekka Diretinha, como é conhecida, não titubeia em vestir seu axó de baiana e colocar sobre o pescoço as contas do seu orixá. Nesta terça-feira (9), por conta da sua fé, Dekka foi vítima de um caso de intolerância religiosa proferido pela esposa do presidente da República, Michelle Bolsonaro.
Em um post, originalmente da vereadora de São Paulo Sonaira Fernandes (Republicanos) e compartilhada pela “primeira dama”, traz o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal adversário do marido nas eleições, recebendo das mãos de “Dekka Diretinha”, através de um banho de pipoca, uma purificação espiritual durante uma cerimônia de religião de matriz africana. No candomblé, o banho de pipoca é usado para “curar o espírito e pensamentos, e também para afastar todas as energias negativas de sua vida”.
“Lula já entregou sua alma para vencer essa eleição. Não lutamos contra a carne nem o sangue, mas contra os principados e potestades das trevas”, dizia um trecho da legenda que acompanhava a gravação. “Isso pode, né! Eu falar de Deus, não!”, escreveu Michelle no Instagram junto do conteúdo.
Como boa filha de Iansã, acostumada a não baixar a cabeça e sucumbir aos olhares e comentários preconceituosos, Dekka rebateu a mulher do presidente:
“Fiquei muito mal com isso que aconteceu. Vi muita gente dando risada, fazendo gozação… Mas intolerância religiosa é algo muito sério. Eu sou do axé, eu sou de matriz africana, gosto de trabalhar com receptivo de baiana. Gosto de fazer esse trabalho que eu me identifico muito. Estou indignada com essa situação, que veio de uma primeira dama, mulher do presidente da república. O que foi que nós povo de axé fizemos contra esses evangélicos? Queria saber a origem de tanto ódio. Estarei tomando as devidas providências contra essa senhora”, afirma Jairã, que se diz petista de coração e trabalha como assessora parlamentar do deputado estadual Rosemberg Pinto.
