No último domingo (16), a Academia Gingado Baiano realizou mais uma edição do seu tradicional batizado de capoeira. O evento, realizado na sede do grupo no Nordeste de Amaralina, foi mais do que uma cerimônia de troca de cordéis e graduações. Reunindo mestres, alunos, familiares e a comunidade, a celebração reafirmou a capoeira como um espaço de educação, socialização e transformação de vidas.
Mestre Morcego, organizador do batizado e um dos dirigentes do Gingado Baiano, destacou a trajetória da academia. “O grupo surgiu em 2005, fruto da união entre os mestres mais antigos da Associação de Capoeira Regional do Mestre Bozó. Desde então, realizamos esse evento anualmente para celebrar a graduação dos nossos alunos”, explicou. Ele ressaltou ainda sobre o impacto social da capoeira, que transcende o movimento corporal. “Muitos acham que capoeira é só jogar perna pra cima, mas poucos sabem que, por trás, existe todo um trabalho educativo e social. Exigimos que nossos alunos estejam matriculados, com bom desempenho na escola e boa conduta nas ruas. Além disso, em nossas aulas de capoeira, promovemos rodas de conversa para refletir sobre educação, saúde, política, atualidades e a realidade da comunidade”, afirmou.

Entre os alunos graduados no evento, muitas crianças marcaram presença, entre elas Pérola Nascimento, de 9 anos. Praticante de capoeira desde os 5, ela participou de sua segunda troca de cordel e celebrou a conquista: “Me esforcei e treinei bastante nos últimos meses para merecer essa troca de cordel.” Estudante do 4º ano do Ensino Fundamental na Escola Municipal Hercília Moreira, Pérola relembrou como tudo começou: “Eu estava doente e fui ao médico com minha mãe. No caminho de volta, passamos pelo Parque da Cidade e vimos uma roda de capoeira. Pedi para minha mãe parar um pouco, e o mestre me convidou para treinar. Desde então, nunca mais quis parar, relata com felicidade.
A capoeira não transformou apenas a vida de Pérola, mas também a de sua mãe, Valdete Nascimento. No início, Valdete apenas acompanhava a filha nos treinos, mas seu envolvimento com a prática cresceu tanto que ela decidiu começar a treinar também e neste batizado viveu a emoção de sua primeira troca de cordel. Valdete lembra que a pandemia trouxe desafios emocionais para Pérola e que a capoeira foi um verdadeiro divisor de águas nesse processo. “Com o confinamento e a insegurança, minha filha desenvolveu questões emocionais. Fiz tudo o que pude para ajudá-la, mas não tinha condições financeiras para ter um suporte profissional. Foi então que a capoeira entrou por acaso em nossas vidas, e logo percebi a conexão e o impacto positivo que ela teve na vida da minha filha’’, compartilha emocionada.
O batizado da Academia Gingado Baiano reafirmou que a capoeira vai muito além de um esporte ou manifestação cultural. Com crianças crescendo dentro da roda, mestres comprometidos com a educação e famílias unidas pelo axé, a capoeira se fortalece como um pilar essencial na formação de cidadãos. Esse compromisso com o coletivo impulsiona novos projetos, como a iniciativa de levar os alunos para conhecer o circuito turístico de Salvador. “Muitas dessas crianças nunca tiveram a oportunidade de visitar certos espaços da cidade. Nosso objetivo é conseguir um ônibus para levá-los a esses lugares. Para isso, precisamos de apoio e parcerias”, afirmou Mestre Morcego.
Assim, mantendo viva a tradição e o legado da capoeira, a Academia Gingado Baiano segue transformando vidas e fortalecendo a comunidade. Mais do que uma prática cultural, a capoeira se afirma como um instrumento de educação, união e esperança para as próximas gerações.