Localizado entre o Nordeste de Amaralina e o Rio Vermelho, o bairro da Chapada do Rio Vermelho, em Salvador, é muito mais do que um ponto de passagem. Suas ruas escondem histórias, memórias e formam um verdadeiro mapa cultural, permitindo aos moradores e visitantes fazerem uma viagem simbólica por diversos países – tudo isso sem sair do bairro.

A Chapada, como é conhecida por seus moradores, surgiu a partir de um processo de ocupação que se intensificou entre as décadas de 1960 e 1980. Terras que antes eram utilizadas para atividades rurais foram progressivamente ocupadas por moradias populares e pequenos comércios. A urbanização espontânea e a ausência de planejamento urbano deram origem a uma geografia marcada por ladeiras, vielas e áreas irregulares, que moldaram a identidade local.

Passeando pela Chapada, é possível se deparar com ruas que levam nomes de países do Oriente Médio e da Ásia, reforçando o caráter multicultural e curioso da região. Entre elas, destacam-se:
- Rua da Arábia
- Rua da Índia
- Rua da Líbia
- Rua da Síria
- Rua da Turquia
- Rua do Japão
- Rua Coréia do Norte
- Rua Coréia do Sul
- Rua do Iraque
- Rua Malásia
- Rua Vietnã do Norte
- Rua Vietnã do Sul
- Via Indiana
- Travessa da Arábia



Cada uma dessas ruas carrega nomes que remetem a culturas, tradições e geografias distantes, compondo um roteiro simbólico que transforma a Chapada em um espaço de conexão com o mundo. O curioso é que essas escolhas não são casuais: elas refletem, de certa forma, o desejo de afirmação, reconhecimento e identidade da própria comunidade.
Além dos nomes das ruas, o bairro é rico em manifestações culturais e religiosas. A Chapada do Rio Vermelho abriga terreiros de candomblé importantes, como o Terreiro de Candomblé da Nação Ijexá, fundado em 2003 e liderado por Mãe Juraci Ferreira de Jesus, e o Ilê Omó Omi Ejá Asé Barú, que promove eventos culturais como o Arrastão do Asé Barú.
Projetos sociais também têm forte presença no bairro. Há mais de 15 anos, religiosos italianos identificaram o potencial da comunidade e fundaram o Centro Cristo e Vida, que mantém uma escola conveniada com a prefeitura, oferecendo educação para crianças da região.
De acordo com o Censo de 2010, a Chapada do Rio Vermelho contava com mais de 21 mil habitantes, a maioria mulheres, negras e jovens. Embora muitos domicílios tenham acesso à coleta de lixo, água e esgotamento sanitário, os desafios sociais ainda são grandes: mais da metade da população vive com até um salário mínimo, e parte dos responsáveis por domicílios não é alfabetizada.
Mesmo diante dessas dificuldades, a Chapada segue viva, criativa e cheia de histórias. É um bairro que mistura luta, fé, cultura e diversidade. Um território que pulsa resistência e acolhimento — onde as ruas falam, literalmente, várias línguas.
Seja por suas ruas com nomes de países, seus terreiros, seus projetos sociais ou sua gente, a Chapada do Rio Vermelho mostra que Salvador carrega o mundo dentro de si.