Diante das notícias veiculadas em jornais e, como sempre, nas redes sociais, dando conta do fechamento de dezenas de escolas da rede pública estadual de ensino, deliberação justificada com argumentos no mínimo contestáveis, mas prefiro colocar os pontos nos is e dar o nome aos bois, pois bem, justificativas inaceitáveis, o governo da Bahia comete um equívoco de tamanha gravidade, notadamente nos dias em que vivemos, que nos explica a situação dramática do ensino público em nosso estado.
Amigos meus professores de há muito nos noticiam sobre o estado calamitoso das escolas sob manutenção do Estado, porquanto, descuidadas, prédios caindo aos pedaços, salas calorentas, falta de material didático, escassez de funcionários, enfim, evasão assustadora de alunos, aliás, quadro que se apresenta faz muito tempo, verdadeira barafunda gerencial e pedagógica.
As escolas não se constituem em ilhas da fantasia. Elas refletem o mundo, o lugar onde vivemos e nos organizamos socialmente, razão pela qual no ambiente escolar os bons e os maus fluidos da sociedade afloram rapidamente. Fechar escolas, por conseguinte. significa cerrar os olhos de centenas de jovens para a cultura, a ciência e o humanismo tão escasso nos dias presentes, penalizando professores, sobressaltando pais e mães que confiaram ao Estado – pois para isso pagam impostos – a educação dos seus filhos Tolda a esperança, sepulta utopias, diminui o ser humano!
A medida adotada pela Secretaria de Educação evidencia a incapacidade dos dirigentes e autoridades, cuja saída para a inadequação dos espaços é fechá-los e transferir os meninos e meninas, moças e rapazes, para outras escolas, ou seja, vão amontoa-los como saco de batatas!
Agrava sobremaneira a decisão o caráter autoritário, monocrático da decisão, deliberada sem nenhuma conversa e negociação com a comunidade escolar, especialmente das unidades afetadas, como também, a sociedade como um todo, como recomenda uma gestão democrática, popular e participativa.
Agiganta-se na minha memória a figura do mestre Anísio Teixeira, baiano, defensor intransigente e pensador obstinado em prol da escola para o povo: gratuita , de qualidade, plural e plena de democracia e me quedo absolutamente triste, como o menino ou o adulto, que jamais aprendeu a escrever e escrever seu nome.
Euclides da Cunha escreveu em “Os Sertões”, que a Canudos a República em vez de enviar homens armados, deveria ter enviado um mestre escola. De um sertanejo ouvi “que o analfabetismo tranca o coração da gente! Senhores não fechem escolas, ao contrário, vamos lutar para transformá-las em instrumentos de combate à miséria, ao abandono social, a violência social e doméstica, vamos habilitá-las como espaço digno da cidadania, da edificação do homem bom, justo, honesto, ético, solidário, incondicionalmente humano!
Colunista Manoel Neto – Historiador e membro do centro de estudos Euclides da Cunha da UNEB | Morador do Nordeste de Amaralina.