Um projeto inusitado tem despertado a curiosidade dos jovens e adultos que transitam pelo bairro da Santa Cruz. Normalmente, quando se pensa em um refrigerador vem logo à cabeça um objeto que tem a funcionalidade de armazenar e conservar os alimentos. Porém, no Colégio Estadual Dionísio Cerqueira, esse importante eletrodoméstico vem estreitando a relação dos alunos com a leitura.
A idéia partiu da diretora da unidade, IIca Guimarães, 37 anos, que sempre sonhou montar uma biblioteca itinerante com obras de autores e autoras negros. A gestora então aproveitou uma premiação que recebera para colocar em prática o antigo desejo:“A biblioteca sempre foi o meu sonho de consumo. Comecei a mobilizar as pessoas para conseguir uma geladeira… Logo em seguida surgiu o maior obstáculo: como iria adquirir os livros? Mas, não desanimei. Conquistei o prêmio “Educar com Equidade de Gênero e de Raça (CEERT)”,e através dele, comprei os livros. Precisamos fomentar a leitura e trazer a literatura negra que muitas das vezes é inviabilizada e marginalizada”, explica a gestora.
A biblioteca funciona há pouco mais de um ano com um acervo de aproximadamente 300 livros entre romance, gibis, biografias, terror, poesia e contos. Os livros estão à disposição da comunidade e podem ser retirados por empréstimo. O funcionamento é de segunda à sexta-feira, das 9h às 15 horas.
Gabriela Cruz de Almeida, 16 anos, aluna do 9º ano, é só elogios à Gelafroteca.
“Gosto de ler e estudar. Minha matéria predileta é o Português e Literatura. Em casa sempre separo um cantinho para sentar, estudar e ler um bom livro”, afirma.
Já para Ilma Pereira, 57 anos, moradora da Rua 11 de Novembro, na Santa Cruz, o gosto pela leitura vem desde sua infância, através do incentivo dos pais.“Gosto de ler sobre tudo. Desde pesquisas científicas a temas religiosos. Precisamos estimular o gosto pela leitura, pois é um mundo que descortina diante dos nossos olhos. Quanto mais lemos, aprendemos, melhora o vocábulo e refletimos acerca do mundo e principalmente, desenvolvemos o pensamento crítico”, conta.
Homenagem – A Gelafroteca, leva o nome da professora Clarice Pereira dos Santos, que faleceu em 2020, vítima de Covid-19. “Pró Clarice”, como era carinhosamente conhecida, morava no Nordeste de Amaralina, e ao longo da sua vida, lutou incessantemente pela educação, além da sua militância em prol do povo negro e contra o racismo. Foi líder comunitária de fazia parte da União dos Negros pela Igualdade (Unegro).
Em conversa com nossa reportagem sua irmã fala da importância da homenagem.
“É muito simbólico saber que o reconhecimento de Clarice está e estará sempre perpassando por várias gerações. Ela dedicou sua vida em prol do seu próximo, plantou essa sementinha em seus alunos e em tudo que se propôs a fazer, e hoje, estão dando frutos. Estamos felizes, pois o legado continua”, comenta Norma Pereira dos Santos, 59 anos.