A noite do dia 21 de novembro de 2010 foi de fato um divisor de águas na vida de Mirian da Conceição Santos. Mais do que isso: a morte do seu filho, Joel da Conceição Castro, de 10 anos, vítima de uma bala perdida, durante uma ação policial, no Nordeste de Amaralina, fez Miriam entender as amarguras e dificuldades de ser mulher, negra e moradora da periferia. O caso foi amplamente divulgado pela mídia na época, no entanto segue sem uma solução.
Como conta a guerreira:
“Sei da dificuldade que uma mulher preta de comunidade enfrenta para manter sua vida e filhos. Sou soteropolitana, moradora da Comunidade Nordeste de Amaralina, filha de marceneiro e de uma dona de casa. Meu filho foi assassinado enquanto se preparava para dormir. Joel representava os meninos sonhadores, que tinham um propósito e que queriam chegar em algum lugar diferenciado na sociedade, apesar das dificuldades. Na época chegaram a falar que meu filho estava trocando tiros com a polícia e que era usuário de drogas. Os médicos achavam que meu filho era ladrão. Um menino de dez anos de idade…”, explica Miriam.
“Sigo vencendo a dor do luto a cada dia. Acredito nos propósitos de Deus para minha vida e sei que tenho uma missão diante do ocorrido. Como mulher cresci, amadureci , fiquei mais forte e enxerguei na minha dor um propósito de consolar outras mulheres , e ser consolada através de nossas experiências”, acrescenta.
Aos 40 anos, Miriam é mãe de Ana Beatriz, de 14. É evangélica e se define como “uma pessoa humana, objetiva, autêntica e que gosta e luta para ser justa diante os seus conceitos éticos, moral e espiritual”. Atualmente labuta na área da educação, como auxiliar de classe. Passados pouco mais de onze anos, o tempo não apagou a sua dor e tão pouco fez arrefecer a sede de justiça. A guerreira segue firme:
“Até hoje estamos com nossa voz de protesto ativa. Queremos saber quais serão as sentenças dos envolvidos. Queremos saber como ficarão aqueles que promoveram a morte do meu filho, pois pelo que sabemos todos continuam livres”, desabafa a “mãe de Joel”.
O preconceito e o estigma também são alvo de critica daquela que tem marcada em sua alma, a força da violência contra os moradores da periferia:
“Tem muita gente que chama isso de “mimimi”. Sentimos o que é isso quando vamos buscar uma vaga de emprego… A gente tenta desmistificar essa lado sombrio que as pessoas lançam sobre o nosso bairro. Procuro falar sobre as pessoas trabalhadoras daqui, das mulheres que lutam… Pessoas que buscam vencer essas barreiras superando o preconceito racial e de gênero, de ser mulher”, finaliza.