7ª Caminhada do Povo de Santo do Nordeste de Amaralina

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Nas religiões de matriz africana, os espaços sagrados transcendem aos limites dos terreiros, templos ou barracões. No culto ao orixá, ao extravasar os seus próprios muros, o povo de santo acaba por sacralizar outros espaços tais como: as encruzilhadas, as matas, cachoeiras, praias e etc. Se Ogum, o orixá ferreiro e guerreiro, tem o domínio das estradas e das ferrovias, Exu reina soberano nas encruzilhadas. Se Oxum é a rainha das águas doces, Iemanjá mostra toda sua imponência nas águas salgadas. Por sua vez, Oxossi é o senhor das matas…

Na comunidade do Nordeste de Amaralina, especificamente, esses espaços sagrados são enraizados na praia de Amaralina, no culto à iemanjá e no Parque Joventino Silva, mais conhecido como Parque da Cidade, local de grande reserva de folhas sagradas, ewé orò ou folhas de orô ogum. 

É na praia de Amaralina que o povo de santo do bairro do Nordeste reverencia a rainha das águas. Na tradição da festa dos pescadores, atualmente tão esquecida e abandonada quanto a própria orla do bairro. Não por coincidência, o descaso do poder público com as demandas do bairro assemelha-se ao preconceito com a cultura do povo negro.

“Sem folha, não há orixá”, diz um provérbio africano. Em vários locais do bairro, onde ainda nos primórdios a mata nativa e as fontes de água forneceram o ambiente ideal para a instalação dos terreiros de candomblé, era fácil encontrar as mais diversas espécies de folha. Aroeira, araçá-mirim, folha de bananeira (para enrolar o abará), cana-de-macaco eram achadas em fartura. No Beco da Cultura, na antiga fazenda Pituba, mais precisamente onde hoje existe o Colégio Polivalente, um pé de Iroko foi plantado com a intenção de assentar um Exú. É o que conta Dona Guilhermina, antiga moradora da região e nora de um antigo pai-de-santo da região. “Iroko é um espírito sagrado, é uma entidade. Iroko é um vento”, diz a sábia senhora.

É dever da sociedade a preservação desses lugares e o entendimento da importância deles como elementos fundamentais para o culto aos orixás. A degradação da praia de Amaralina não atinge somente aos banhistas. O descaso com o local é um corte de lacerante no seio do povo de santo da região. Em sua sétima edição a Caminhada do Povo de Santo do Nordeste de Amaralina, fazendo-se valer do seu papel de instrumento luta e resistência, se propõe a trazer para o debate a importância da preservação dos nosso espaços sagrados. Vista seu branco, enrole seu turbante, encha o seu espírito de paz e venha marchar em favor das demandas do povo de santos. Assim seja! Salve Olorum!

Caminhada do Povo de Santo do Nordeste de Amaralina

Data: 07 de julho – Saída às 8h do final de linha do Nordeste

Tiago Queiroz
Tiago Queiroz
Graduado em Comunicação/Jornalismo, e exerce as funções de Editor e Coordenador de Jornalismo do Portal NORDESTeuSOU

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