Alan Nunes e o SSAQUECORRE: Corrida de Rua e Empreendedorismo no Nordeste de Amaralina”

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“Sou apaixonado pelo Nordeste, um lugar repleto de histórias e memórias afetivas. Adoro descer à orla e andar descalço na praia de Amaralina. Melhor ainda é acordar cedo, assistir ao nascer do sol e aproveitar para dar uma corridinha”, disse o empresário, influenciador e corredor Alan Nunes Santos, 42 anos. Nascido e criado na Travessa do Balneário, no Nordeste de Amaralina, Nunes vem ganhando destaque no cenário da corrida de rua de Salvador com a criação do SSAQUECORRE. O grupo reúne cerca de 36 mil pessoas em sua página no Instagram e outros milhares de seguidores no WhatsApp.

Fundado por ele mesmo em meados de 2018, o grupo reúne corredores de toda a Bahia. A ideia, segundo Nunes, é oferecer ao “atleta todo tipo de informação sobre a corrida de rua”. A criação da página surgiu meio que por acaso. Até então sedentário, Allan viu no esporte uma forma de superar uma desilusão amorosa. Iniciou na musculação, depois partiu para aulas de Jiu-Jitsu e, mais tarde, para a corrida de rua.

“Treinava sozinho aqui na orla de Amaralina. Foi então que descobri o grupo de corrida Aquathlon. Fui convidado pelo professor André a participar dos treinos. Foi através desse projeto que conheci o universo da corrida de rua. Ao perceber que esse mundo era muito mais extenso, comecei a buscar outros grupos para me aprofundar ainda mais”, explica.

“Em 2015, entrei no grupo ‘Amigos Corredores de Salvador’, que tinha como uma de suas regras não falar sobre religião, algo que me incomodava. Quando questionei, recebi uma resposta que, hoje, vejo como um ponto de virada na minha vida: ‘Se você não gosta das regras, crie seu próprio grupo.’ Foi assim que, há seis anos, nasceu o SSAQUECORRE”, explicou Nunes.

Inicialmente, o SSAQUECORRE era formado por um grupo de pessoas de diferentes partes da cidade, que se reuniam para treinar e trocar experiências sobre corrida. Percebendo o grande potencial econômico desse segmento e atento às tendências do mercado, Nunes decidiu ampliar seus horizontes e dar novos rumos ao projeto.

“Até então, o universo da corrida de rua em Salvador era muito restrito, dominado principalmente pelas assessorias. Faltava alguém que se posicionasse como intermediador entre os organizadores e os corredores. Foi nesse cenário que identificamos uma oportunidade e nos fortalecemos como grupo. Não estamos aqui apenas para falar sobre corrida, mas para interagir com esse mundo também como negócio. No nosso grupo, o corredor encontra de tudo: desde quem vende óculos e bermudas de compressão até meias especializadas, criando uma rede completa para atender às suas necessidades”, ressalta o empreendedor.

“Muitas pessoas afirmam que a corrida se transformou em um comércio, e eu sou grato por isso. Afinal, por trás desse movimento, existe uma grande estrutura e uma cadeia produtiva: o staff, a mão de obra, as empresas que fabricam as camisetas, os números de peito, o gelo, a hidratação… A corrida de rua ainda está longe de atingir seu auge, há muito mais por vir”, acrescenta.

A realização de uma corrida com a assinatura do SSAQUECORRE é um dos seus projetos a curto prazo:

“Temos recebido muitos pedidos, e dentro do nosso planejamento para 2025, estamos empenhados em desenvolver novas ações para tornar esse projeto possível, que envolve um custo elevado. Por enquanto, já realizamos alguns ‘treinões’, onde o grupo escolhe uma data que seja conveniente para todos e seguimos com a atividade. No dia 29 de dezembro, vamos promover o evento ‘Gratidão e Fé’, que começará no Largo das Baianas e seguirá até o Bonfim.”

Nordeste de Amaralina – Nunes encontrou nas ruas do bairro o equilíbrio essencial para alcançar o sucesso nas pistas de corrida e em sua vida profissional. A convivência no Tenda do Orixás, bar de propriedade de seu pai, Seu Nunes, que por décadas funcionou no final de linha do bairro, proporcionou-lhe ensinamentos valiosos. O conhecimento adquirido nas relações construídas dentro da comunidade, onde não há distinção de cor, gênero ou condição social, foi fundamental, segundo ele, para a sua formação.

“A corrida de rua é o esporte que mais agrega pessoas. Mesmo sendo um esporte individual, existe a necessidade da interação social. Isso é bastante visível aqui no Nordeste, onde você pode até não saber o nome da pessoa, mas você cumprimenta. Essa política da boa vizinhança e de tratar bem as pessoas também existe no universo da corrida.”

Alan costuma apontar o bairro “como um lugar de potência e de crescimento”. Ele vê a possibilidade de fomentar a prática esportiva dentro da comunidade como uma forma de devolver ao bairro tudo aquilo que lhe foi dado:

“O SSAQUECORRE é um projeto do bairro, embora ainda não sejamos tão reconhecidos por aqui. Acho que falta investimento por parte do poder público em atividades esportivas dentro da periferia. Na época da eleição, foi construída muita quadra e campo de futebol, mas não foi dada a atenção necessária para colocar uma pista de atletismo ao redor… Falta orientação básica sobre educação esportiva. Existe no Nordeste uma galera que pode se beneficiar desse movimento da corrida. Temos aqui três ou quatro academias, o que representa uma movimentação aproximada de 100 atletas por academia e que com certeza consumiram produtos ligados à atividade física.”

“O Nordeste de Amaralina, por conta da sua orla, é um local propício para correr. Um trecho de orla arejado, fresco, com calçadão plano e de onde saíram grandes atletas. Tínhamos Giva, que foi o grande precursor do movimento de corrida aqui no bairro. Uma figura conhecidíssima e responsável pela formação de diversos corredores e até triatletas. Tem também Marcelo Silva, que fez o percurso de 100 km com suporte quase zero e que saiu de um quadro de obesidade para se tornar um atleta de ponta.”

“Faltam ações pontuais no bairro. Temos aqui trechos muito bons, que não são aproveitados. Amaralina acaba sendo apenas um trecho de passagem. Você tem corridas que têm largada e chegada no Rio Vermelho e Pituba, por exemplo. Eu cheguei a fazer um treinão, onde fizemos largada e chegada no Largo das Baianas, que é um local de grande potencial para essas ativações. Quem sabe em 2025 não possamos realizar esse sonho?”, finaliza.

Tiago Queiroz
Tiago Queiroz
Graduado em Comunicação/Jornalismo, e exerce as funções de Editor e Coordenador de Jornalismo do Portal NORDESTeuSOU

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