Conquistar uma vaga em uma faculdade é um sonho de muitos estudantes, embora não seja uma realidade tão acessível para aqueles da rede pública de ensino, que enfrentam diversos desafios pelo caminho. No entanto, demonstrando que é possível mudar essa realidade por meio da educação, Alisson Silva Costa Barbosa, 21 anos, residente no Vale das Pedrinhas, provou ser uma grande inspiração ao ser aprovado não apenas em uma, mas em duas universidades, tanto na Federal quanto na Estadual, no curso de medicina.
Filho único, de uma família humilde, ele vive em uma casa simples de poucos cômodos na rua do Eco, no Vale das Pedrinhas, criado por sua mãe, Maria das Graças Pereira Silva, 41 anos, que há 19 anos trabalha como babá para oferecer uma vida estável ao seu filho. “Sempre busquei dar o melhor e priorizei a educação. Com muito esforço, consegui colocá-lo em um cursinho pré-vestibular aqui em Salvador, no Bernoulli. Estou muito feliz, pois venho de uma família muito simples. Sou mãe solteira, comecei a trabalhar aos 7 anos de idade, tive acesso a quase nada de estudo, apenas aos meus 19 anos que aprendi algo sobre estudos, mesmo conciliando com a carga horária de trabalho. Sinto-me realizada com meu filho, pois consegui educá-lo, e vê-lo ser aprovado no curso de medicina foi motivo de grande alegria. Só tenho a agradecer a Deus”, emocionada, Maria das Graças relembra os obstáculos enfrentados na vida e, ao mesmo tempo, o orgulho que sente pelo filho.
Alisson ficou em primeiro lugar no curso de Medicina na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), pelo vestibular tradicional, e na Universidade Federal do Paraná (UFPR), pela sua pontuação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que correspondeu a 980 pontos na redação. De acordo com o estudante, a conquista se deve à sua jornada intensa de estudos e ao incentivo de sua mãe, sua avó de 69 anos e sua bisavó de 95 anos, que foram suas inspirações.
“Eu estudava praticamente todos os dias, 12 horas diárias, até o dia do Enem. Tive que abdicar de muitas coisas, não saí o ano todo para festas, só me dedicava aos estudos. Contei com o apoio e carinho de minhas maiores inspirações, pois nelas encontrava a motivação para seguir em frente”, revela.
O diretor do Colégio Estadual Manoel Devoto, Luciano Alves, onde o jovem cursou o ensino médio, destacou o trabalho realizado com os alunos para alcançarem esses objetivos: “É um trabalho árduo, e estamos aqui porque acreditamos em uma escola pública de qualidade, sabemos do potencial dos nossos estudantes da Comunidade do Nordeste de Amaralina e temos uma Comunidade Escolar que apoia e acolhe esses jovens que têm feito a diferença quando acreditam na proposta pedagógica e, especialmente, da nossa instituição. A responsabilidade social na qual o colégio está inserido nos leva a uma vivência de atitudes positivas e trabalhamos com momentos de aprendizado por área do conhecimento, elaboramos propostas de ações para trabalhar com os conteúdos das disciplinas pensando no que aluno deve saber para as provas do Enem e Vestibulares, envolvendo os estudantes em várias linguagens artísticas, promovendo a difusão e produção de conhecimento na escola, dentro das múltiplas possibilidades de ilustrar o conhecimento adquirido”, pontua.
Luciano ainda ressalta o papel do trabalho dos docentes e da Comunidade Escolar para integrar os estudantes no ensino superior:
“Parabenizamos os estudantes egressos do Manoel Devoto, suas famílias, e parabenizamos nossos professores e professoras, nossa equipe técnica e pedagógica, pois a vitória dos nossos estudantes é a vitória de todos nós que nos esforçamos para que a escola pública exista com qualidade”, atribui.
Questionado sobre o surgimento do sonho de ser médico diante do contexto que vive, Alisson comenta que esse desejo surgiu desde sua infância, pois o encarava como uma missão de vida.
“Para mim, viver na área da educação é a realização de uma meta, de um propósito de vida que tenho, que é ajudar as pessoas e poder salvar vidas. A escolha da medicina é principalmente por esse motivo, pelo propósito que tenho. Sempre sonhei em ser médico, mas ninguém da minha família jamais teve acesso a uma universidade. Então, no começo, era um sonho distante para mim, principalmente quando terminei o ensino médio e vi que realmente é o curso mais concorrido do país. Mas minha principal força era: ‘não posso desistir, não faço isso só por mim, mas também pela minha família’. Estudei, estudei e deu certo”, revela o jovem orgulhoso de sua trajetória de dedicação.
Para concluir, Alisson considera especial o momento em que anunciou à sua bisavó, Julinda Nunes Pereira, de 95 anos, que seria o futuro médico da família.
“Ela, com uma idade já avançada, moradora de um povoado na Chapada Diamantina, com uma realidade bem distante da sala de aula, mas sempre soube da importância do poder da educação, acreditava que comigo seria diferente, pois depositava em mim o desafio de romper com a estrutura que a família carregava sem poder ir longe. Ela, com quase nenhum tipo de instrução escolar, ao ver que ingressei em um nível superior de ensino, ficou chorando de pura alegria. E disse: ‘Foram minhas orações. Vou continuar orando'”, conclui emocionado.