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Estou apaixoando pela menina do JOB

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Era só mais um dia comum na ladeira da Santa Cruz. Calor demais, buzina, gente gritando, camisa colada de suor. Voltei do trampo moído, com a alma arrastando pelo asfalto quente. Entrei no grupo de zap da quebrada, só pra ver zoeira e esquecer a vida um pouco. Foi lá que vi a foto dela. Nome inventado, corpo bonito, legenda dizendo “discreta e carinhosa”. Não sei o que me deu. Chamei.

Ela respondeu rápido. Marcamos num quarto daqueles de vinte conto a hora, cama mole, ventilador fazendo mais barulho que vento. Quando ela entrou, o tempo parou. Morena, cabelo escorrido, um olhar firme que parecia dizer: “já vi muita coisa”. Me chamou de “amor”, mas eu sabia que era só parte do serviço.

Duas horas. Só isso. Mas o que me pegou mesmo não foi o que rolou de corpo — foi o depois. A gente ali, largado na cama, ela fumando um cigarro, pé batendo na parede, contando da vida dela como se me conhecesse faz tempo. Falou da mãe doente, da filha pequena que ficava com a vizinha, dos perrengues. Eu só escutava, sem saber o que dizer, sentindo um aperto estranho no peito. Era mais que tesão. Era um tipo de cuidado, um querer bem, que eu nem lembrava mais como era.

Depois daquele dia, eu não parei de pensar nela. Comecei a chamar de novo. Todo mês, assim que o salário caía, eu já mandava mensagem. Não era nem pelo sexo mais — era pra ver ela sorrindo, ouvir ela falar da vida, dividir um silêncio. Ela vinha, no mesmo quarto da mesma pensão na Rua do Norte. Me tratava com carinho, mas com uma linha invisível entre a gente. Tipo: “não passa daqui”.

Mas eu já tinha passado. Tava dentro até o pescoço.

Num dia, depois de tudo, eu não aguentei. Fiquei ali sentado na beira da cama, com o coração feito farofa. Os olhos encharcados. Ela se vestia devagar, ajeitando o cabelo no espelho.

— Você já vai? — perguntei, tentando segurar o que não tinha como.

Ela me olhou com um misto de pena e costume. Suspirou fundo.

— Tenho outro cliente lá em Itapuã, se eu me atrasar ele cancela.

— Fica só mais um pouco… hoje foi diferente. Eu… — engasguei.

Ela veio perto, passou a mão no meu rosto. Tinha um carinho ali, mas também uma parede. A mesma de sempre. E disse, com a voz baixa:

— Não chora, vida. Quando o salário cair mês que vem, você me vê de novo. Você só pagou duas horas.

E saiu. Me deixou com o cheiro do perfume dela no quarto, e o coração do lado de fora do corpo.

Desde então, toda vez que o salário pinga, é ela que me vem na cabeça. Penso em mandar mensagem. Às vezes digito e apago. Porque eu sei… o que eu queria dela, não tem preço. E amor, meu irmão… amor não se paga no pix.

Redação NES
Redação NES
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