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Perdi o amor da minha vida por medo de me assumir

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No Dia Internacional contra a LGBTfobia, vamos contar a história de Lucas

Oi, gente. Meu nome é Lucas, tenho 21 anos e moro no Nordeste de Amaralina, na região da Santa Cruz, em Salvador. Estou escrevendo isso porque minha cabeça está a mil e meu coração ainda mais. Carrego uma dor que não sei mais esconder.

Faz quase 8 anos que conheci o Mateus. A gente se esbarrou num curso de informática aqui no bairro e, com o tempo, fomos criando uma conexão muito forte. Começamos a ficar, escondido de todo mundo. E eu me apaixonei de verdade. Só que por mais que ele tenha sido o amor da minha vida, eu nunca consegui assumir isso — nem pra mim, nem pra ninguém.

Aqui onde eu moro, ser gay ainda é motivo de piada, de exclusão, de violência. Desde pequeno escuto que “viado tem que apanhar” ou que “isso é coisa do demônio”. Cresci ouvindo isso dentro de casa, na escola, na rua. E esse medo me moldou. Mesmo amando o Caio, eu vivia me escondendo, mentindo, fingindo ser alguém que eu não sou.

A gente ficou anos nesse vai e volta, e só no final do ano passado eu topei “namorar sério”. Mas mesmo assim, só dentro dos nossos momentos a sós. Fora disso, eu continuava fingindo. Quando alguém perguntava, eu dizia que a gente era só amigo. Eu morria de medo de ser rejeitado pela minha família, pelos meus vizinhos, de ser agredido. Aqui no bairro, não é todo mundo que entende, que respeita.

Nesse namoro, eu fui um cara confuso, machucado e, sem querer, machuquei ele também. Pedi tempo várias vezes, achando que precisava me encontrar. Mas era covardia. Era o medo tomando conta. Quando ele começava a se afastar ou falar com outro, eu surtava de ciúmes. Corria atrás, implorava pra voltar. Mas na primeira crise, me escondia de novo.

Cheguei a ficar com meninas, tentando me convencer de que podia seguir uma vida “normal”, como os outros esperam. Mas tudo era vazio. Só fazia mais bagunça na minha cabeça e no coração do Caio. Coloquei outras pessoas entre nós e destruí o que a gente tinha.

Há um mês, num momento de confusão, pedi pra ele seguir a vida dele. E dessa vez ele foi mesmo. Se afastou, esfriou comigo, parece até que já seguiu em frente. E agora eu me vejo aqui, perdido. Sem vontade de sair de casa, sem ânimo pra nada. Só chorando, me culpando por tudo.

Eu queria muito que fosse diferente. Que ser gay não fosse motivo de medo, de vergonha. Queria ter coragem de amar sem me esconder, de segurar a mão dele na rua aqui em Salvador sem medo de apanhar ou ser xingado. Mas eu não consegui. E talvez tenha perdido o homem que mais me amou por causa disso.

Não sei mais o que fazer. Só queria dizer pra ele: me perdoa, eu te amo, e eu queria ter sido mais forte. Mas talvez agora seja tarde demais.

Redação NES
Redação NES
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