Vivemos imersos nas redes sociais, dedicando horas a viver num mundo totalmente virtual, o qual exerce grande influência no comportamento humano.
Fotos filtradas, encontros virtuais, corpos e vidas perfeitas fazem parte de um universo considerado o paraíso. Não é segredo afirmar que estamos, a cada dia, vivendo integralmente nesse mundo virtual e, consequentemente, nos distanciando do real. Lamento dizer, mas a impressão que se tem é que estamos à beira de um precipício. Todo esse universo tem fascinado, sugado e adoecido nossas crianças, jovens e adultos.
Não é uma crítica, mas uma reflexão sobre essa fase de início de um novo ciclo. Que possamos repensar a rota, considerando os impactos que toda essa vida digital tem causado diretamente ou indiretamente na nossa saúde física e mental. Lembremos que mudanças, quase sempre, são necessárias na nossa vida e na vida do outro, o tempo todo, e que bom que seja assim.
Consequências como o sentimento de não pertencimento ao meio, busca por validação, baixa autoestima, ansiedade, exclusão, desejo por uma perfeição inatingível, depressão, suicídio e tantos outros compõem uma lista extensa que parece não ter fim. Mas quer uma dica? Pare de se comparar, você é ÚNICO E ÍMPAR.
Infelizmente, essas situações são acompanhadas e compartilhadas por milhares de seguidores. Neste ano, vários casos ganharam as manchetes, como o de Rodrigo Amendoim, conhecido por seus mais de um milhão de seguidores pelos conselhos bem-humorados, em geral, pela sua alegria e brincadeiras nas redes sociais. Mas e na vida real, como será que os “influenciadores” realmente estão?
Além disso, vivenciamos a disseminação da cultura do cancelamento. Embora seja possível que alguns poucos desconheçam o termo, no entanto, seu significado é amplamente reconhecido por todos nós. Ao recorrer à história, nos deparamos com expressões como “Aquele que não tem pecado, que atire a primeira pedra”, bem como episódios de “censura” e diversas formas de assegurar um lugar direto no banco dos réus para todo aquele que foge dos padrões.
Seria hipocrisia dizer que a internet não trouxe ganhos, mas também é leviano fechar os olhos para os danos que possivelmente causam em todos nós. Entretanto, meu caro leitor, tudo é uma questão de equilíbrio, sabermos usá-la com bom senso, para otimizar nossas atividades sim, diminuir a distância de pessoas queridas também sim, mas nunca para nos afastar das pessoas, nunca para fazer mal ao outro e jamais para cancelarmos alguém.
As redes sociais transformaram-se em tribunais nos quais todos proferem acusações e sentenças fundamentadas no simples fato de achar e pensar. As portas e oportunidades se fecham num simples piscar de olhos para aqueles que tiveram seu desempenho desaprovado. Surge a ideia de que, se houve um erro em determinada situação, isso definirá perpetuamente a identidade da pessoa. Em outras palavras, um ato falhoso é sentenciado, apagando toda uma trajetória, história ou vida. Questionamos se essa abordagem é realmente necessária. Será que não podemos cometer erros? Somos seres humanos ou deuses? Muitos são os desdobramentos do universo virtual.
Os juízes online ou “haters” estão por todos os lados com pedras nas mãos. No entanto, questionamos se essas pessoas merecem uma condenação perpétua.
O caminho a ser seguido não é claro, mas é certo que devemos acreditar que todos merecem uma nova oportunidade de traçar novos rumos, pois todos somos humanos e como tal, somos passíveis de erros.
O segredo está em reconhecer quando erramos e ter a capacidade de recomeçar. Já enfrentamos talvez um dos maiores desafios, que é lidar diariamente com uma sociedade que nos olha com desconfiança por sermos negros, periféricos, mulheres, gordos, pertencentes a algum grupo minoritário e fora do padrão “virtual”.
Desejo que possamos ter um 2024 com mais abraços, olhos nos olhos, menos juízes online, hate, removendo os filtros e que, além disso, possamos caminhar encarando o nosso semelhante como realmente é: imperfeito, falho, mas com o desafio constante de buscar evolução e que somos pessoas reais.
Talvez seja assim que alcançaremos um mundo mais humano, igualitário, empático, justo, acolhedor e leve.